Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Como explicar que uma maltesa trabalhando para uma empresa inglesa tenha uma melhor visão da nossa economia do que os nossos economistas? E que haja tão poucos economistas portugueses a acertar nas previsões?

Todos os anos a FocusEconomics, conceituada organização internacional, compara as previsões macroeconómicas dos diversos analistas com os números finais e atribui prémios aos que mais se aproximaram da realidade. Este ano, por causa da pandemia os prémios foram atribuídos de forma mais discreta.

Quem foram então os analistas que melhor souberam ler as dinâmicas da economia portuguesa e acertaram nas previsões que fizeram em 2018 para o final de 2019? Em termos gerais do quadro macroeconómico a melhor analista foi Melanie Debono. Relativamente ao crescimento do PIB foi a equipa da Universidade Católica de Pedro Afonso Fernandes que ganhou, mas em termos de valores para a inflação e taxa de juro o primeiro lugar foi respetivamente para Melaine Debono da Capital Economics e para Petr Zemcik da Moody´s Analitics, já em termos de deficit externo a equipa do Unicredit foi a que se destacou. Para uma análise mais detalhada deixamos os resultados completos no quadro abaixo.

Que podemos concluir deste quadro geral? Por um lado a ausência de instituições nacionais, apenas a Universidade Católica e o NovoBanco. Em termos individuais também uma pobreza franciscana com destaque pela positiva apenas para Pedro Afonso Henriques e Ana Andrade.

Onde andam as restantes escolas de economia – o ISEG, a Faculdade de Economia do Porto, etc. – onde estão bancos como a Caixa Geral de Depósitos ou o Millennium bcp?

Porque deixamos aos estrangeiros o melhor conhecimento da nossa economia? Como podemos elaborar estratégias de crescimento corretas quando são outros os que possuem um domínio mais perfeito dos modelos económicos sobre a nossa própria economia e assim melhor podem antecipar os efeitos das medidas tomadas pelas autoridades?

Como explicar que uma maltesa trabalhando para uma empresa inglesa tenha uma melhor visão da nossa economia do que os nossos economistas? E que haja tão poucos economistas portugueses a acertar nas previsões?

E mesmo a economista portuguesa que mais se destaca, Ana Andrade, trabalha em Londres para a (The) Economist Intelligence Unit (EIU) e fez os seus estudos em Espanha.

Que debilidades nos mostra este prémio? Como sempre o saber e a capacidade analítica têm sido o calcanhar de Aquiles das nossas elites económicas e políticas. É o que acontece quando o mérito é substituído pelo cartão partidário, pelo nepotismo e pela "cunha".

Economista