Silvério Cordeiro, Jornal i
O processo político é dinâmico e os problemas nascem no decorrer da legislatura
Segundo a abordagem tradicional, as políticas são pensadas como respostas aos problemas concretos duma sociedade, por isso cada partido constrói com elas o seu programa eleitoral, moldando-as à sua matriz ideológica. Neste contexto, os meios de informação que pretendem criar e influir na opinião pública deveriam manter-se neutrais, sem qualquer proselitismo. Por outro lado, os eleitores, no seu legítimo direito e cumprindo o seu dever democrático, pensa-se que votam sempre, segundo os seus interesses e que serão capazes de avaliar criticamente a ação dos partidos, e em particular do partido vencedor para formar governo, no fim do mandato. Rui Rio, tem esta visão do processo político.
Porém, nem sempre o racionalismo dos eleitores é evidente, des-de logo, porque parte deles são militantes do partido, não têm informação completa, e muitas vezes as suas perceções são manipuladas por quem governa e pela opinião publicada.
Em boa verdade, o processo político é dinâmico e os problemas nascem no decorrer da legislatura, influenciados não raramente, por grupos de interesses e lobbies. Por outro lado, são moldados pelos meios de comunicação social.
Neste quadro, os governos respondem às pressões dos interesses e da opinião pública, ora desacreditando os líderes dos grupos, ora negociando as políticas, dando razão, mas mostrando-se incapazes de o fazer e, finalmente, adiando o processo de decisão. Neste modelo, o partido do governo não põe de lado o seu programa, mas este tem apenas o papel de orientador do receituário.
Assim sendo, como se avalia este tipo de governo? Parece-nos evidente que o anterior (modelo tradicional) se avalia pelas leis publicadas e pelos resultados obtidos em comparação com os objetivos pré-definidos, já neste último caso o governo avalia-se em função da paz social, do bem-estar, da segurança, do nível de emprego, entre outros.
António Costa é um político que gere o dia a dia em função destes objetivos e não de indicadores definidos previamente. E, neste sentido, é um pluralista e um realista, já que o modelo racional é uma ilusão.
Em contraponto, não posso deixar de lembrar José Sócrates, o qual não encaixa em nenhum dos dois modelos. Enquanto primeiro-ministro, tinha uma ideia para o País, que passava pela alteração do modelo económico, através do investimento em educação pública, energias renováveis e em ciência e novas tecnologias. Mas ao tentar implementar esta ideia, atacou grupos de interesses que aproveitando-se dos seus erros, só ficaram satisfeitos quando o “queimaram vivo”. Numa palavra, não era pluralista, nem racional, porquanto não negociou, nem mediu as consequências da prossecução dos objetivos.
Por último, e no atual quadro político, é minha convicção de que estamos perante um governo da normalidade, do que é possível fazer num país pobre, tutelado por Bruxelas. Além disso, as eleições não ajudaram a estabilizar o sistema político. Apesar da maioria confortável, o partido socialista não tem a maioria absoluta no Parlamento. Tem que ceder à esquerda e ceder à esquerda significa aumentar a despesa, para distribuir riqueza que se não tem nem se produz, assim se tentando satisfazer os reclamantes que amplificam as vozes através da “boa imprensa” de que disfrutam.