Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

"Mas estas linhas também não pretendem escamotear uma verdade irrefutável: o transporte de energia elétrica em muito alta voltagem é uma missão de risco e a probabilidade de acidente está sempre presente”.

 

No último artigo retomámos o alerta lançado por Mark Carney, Governador do Banco Central do Reino Unido, sobre as falências devido à insuficiente adaptação da estratégia empresarial às alterações climáticas. E pegámos exatamente no exemplo por ele dado: a PG&E, a elétrica californiana, que não se prevenindo contra a seca mais frequente e o vento mais forte provocou grandes incêndios florestais por faíscas emitidas das suas linhas de alta tensão. As indemnizações a pagar atiraram-na para a insolvência e os acionistas perderam o seu investimento.

Na sequência do artigo recebemos da REN o seguinte esclarecimento:
"• Entre 2014 e 2018, a REN limpou mais de 22 mil hectares de terrenos, o equivalente a 22 mil campos de futebol. Só em 2018, limpámos cerca de 6 100 hectares (24 hectares/dia). É importante ter presente que este trabalho é executado em terrenos que não são pertença da REN, o que implica um contacto com os proprietários antes de qualquer intervenção. No ano passado, este trabalho envolveu o contacto com cerca de 23.500 proprietários. Estas operações têm um impacto muito significativo na defesa da floresta contra incêndios, e é coordenada com o ICNF e com todos os municípios onde se encontram instaladas linhas elétricas e gasodutos afetos à concessão da RNT (Rede Nacional de Transporte de Eletricidade) e da RNTGN (Rede Nacional de Transporte de Gás Natural).

No ano 2019, planeamos limpar mais 10% do que em 2018 e nos próximos anos prevemos executar uma área global sempre superior a 7.000 ha/ano.
Entre 2010 e 2018, a REN plantou mais de 1 milhão de árvores, numa área superior a 22 mil hectares, substituindo espécies de rápido crescimento por espécies autóctones, que já desempenham um importante papel na defesa da floresta contra os incêndios. Nestas reconversões já abrangemos mais de 13 mil proprietários, que podem tirar rendimentos de terrenos que estavam, frequentemente, ao abandono, promovendo também o aumento da biodiversidade.

Todos os dias, 200 homens limpam mato e floresta em todo o país, ao serviço da REN.

O processo global, que inclui a limpeza das faixas, cadastro a proprietários, aviso a proprietários e coordenação e segurança, envolveu um investimento superior a 6 milhões de euros em 2018.

Nos últimos 10 anos, a REN doou 37 veículos a Bombeiros Voluntários e 27 veículos a equipas de prevenção de incêndios de autarquias.

A manifestação mais elucidativa do reconhecimento da qualidade do trabalho da REN neste campo é o facto de SNPC e corpos de bombeiros utilizarem com frequências as nossas faixas de limpeza para instalar estruturas móveis de comando a fogos."

Registe-se o trabalho notável da REN em prol da defesa da floresta nacional e da minimização dos riscos. Um investimento absolutamente necessário e apenas economicamente justificado para evitar males maiores que a empresa pode provocar.

O representante da REN termina escrevendo "Esta missiva, como disse no início, não tem outra finalidade que não informar e impedir a repetição de um erro, pelo que te peço o favor de a transmitires ao vosso articulista. Mas estas linhas também não pretendem escamotear uma verdade irrefutável: o transporte de energia elétrica em muito alta voltagem é uma missão de risco e a probabilidade de acidente está sempre presente".

Portugal começou verdadeiramente com o Milagre de Ourique, tivemos depois santos milagreiros como Santo António e finalmente um conjunto de aparições em Fátima. Temos agora algo completamente inédito: as linhas da REN transportando "energia elétrica em muito alta voltagem", sendo uma "missão de risco" e estando a "probabilidade de acidente sempre presente" em períodos de seca e de vento forte nunca provocaram incêndios nas longas décadas em que este flagelo vem atingindo o nosso país.

Eu, como tantos portugueses, acredito em milagres. Somos, verdadeiramente, um país abençoado.

Economista