Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

É tempo desta comunidade, parte do todo nacional, ter também a sua representação política, ter os seus porta-vozes, os seus líderes e dirigentes no centro de decisão do país. Nada justifica a sua exclusão que tem sido sistemática e completa até hoje.

Pela primeira vez na história de Portugal uma mulher negra é cabeça de lista de um partido político no principal círculo eleitoral do país: o de Lisboa. Um marco que convém assinalar retendo o nome da protagonista: Joacine Katar Moreira e dando-lhe a atenção mediática que merece.

O facto de ser tratar de um partido extraparlamentar, mas desta vez com fortes hipóteses de eleição de uma deputada, não diminui o facto antes engrandece a agremiação política. Pena é que outros não tenham ainda seguido o exemplo.

A sua candidatura constitui um ato de coragem numa sociedade profundamente mergulhada num racismo institucional e num machismo perturbante – bem patente no elevado número de mulheres assassinadas todos os meses.

No passado mais longínquo, na I República, tivemos partidos Negros – a Liga Africana, o Partido Nacional Africano, etc. – alguns mesmo com representação parlamentar, mas nessa época as mulheres não podiam votar nem ser eleitas.

Na democracia atual o número de deputados negros ao longo deste quase meio século conta-se pelos dedos de uma mão, ou seja manifestamente nada. E no entanto basta passear por Lisboa ou pelos seus concelhos limítrofes para se verificar o peso da população negra. Eis o resultado da falsa meritocracia: uma grave distorção da democracia, com toda uma comunidade afastada da decisão sobre as suas vidas.

Chegou o momento das mulheres negras serem representadas no Parlamento e a outros níveis do poder político.

É tempo desta comunidade, parte do todo nacional, ter também a sua representação política, ter os seus porta-vozes, os seus líderes e dirigentes no centro de decisão do país. Nada justifica a sua exclusão que tem sido sistemática e completa até hoje.

Joacine Katar Moreira, doutorada em Estudos Africanos, militante feminista e antirracista tem já um trabalho reconhecido ao nível académico e uma história de grande ativismo no plano social, nomeadamente ao nível do Instituto da Mulher Africana (INMUNE) que fundou. Personalidade forte, determinada e perseverante na defesa das suas ideias. É, pois, uma candidata sólida e perfeitamente preparada para o cargo.

Apesar de diferenças ideológicas que nos separam desejo-lhe o maior êxito nas eleições que se aproximam, sabendo que a sua eleição seria de extrema importância simbólica e real para o nosso país. 

 
Economista