Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Depois da espuma ideológica das acaloradas parciais e enviesadas conclusões dos analistas profundamente comprometidos com os partidos que representam, apresento uma modesta opinião sobre os resultados eleitorais do mês passado numa perspetiva temporal mais alargada e que nos permite ter uma visão mais clara do que aconteceu.
Primeiro vejamos a evolução da representação nacional ao Parlamento Europeu nas últimas 4 eleições cobrindo um período de 15 anos: (ver tabela)
Duas constatações se impõem de imediato: a quebra do PS e o aumento da abstenção.
De facto o partido que mais perde é o PS que de 12 deputados em 2004 passa para 9, absorvendo isoladamente a baixa de deputados de Portugal – o nosso país perdeu 3 deputados europeus, passando a representação nacional de 24 para somente 21.
A abstenção sobre sistematicamente situando-se agora perto dos 70%. Não se trata de fenómeno isolado mas sim de um paulatino e consistente aumento a cada eleição.
A legitimidade da representação nacional é de facto já hoje muito questionável. Se para um referendo ser vinculativo se exige uma participação eleitoral de 50% abaixo da qual se considera que a votação pode não ser representativa, o que dizer de uma participação de 31% (abstenção de 69%) nestas eleições?
Quantos aos restantes partidos, eles oscilam numa banda que não foi quebrada nestas eleições: o PSD entre os 6 e os 8, o CDS entre os 2 e 1, a CDU que elege normalmente 2 deputados e por uma vez elegeu 3 desta vez ficou-se pelo seu número habitual de 2, o BE oscila entre 1 e 2. Os resultados destes partidos estão dentro do seu normal.
Os partidos que repetidamente nos disseram terem sido derrotados o PSD e a CDU estiveram, na verdade, no seu normal. O Bloco que vários comentadores afirmam vencedor afinal também se manteve dentro do habitual.
Mesmo o PAN que nestas eleições fez o papel de MPT nas últimas eleições não conseguiu fazer melhor do que este que elegeu 2 deputados nas eleições de 2014.
Em resumo umas eleições sem grandes evoluções face às últimas e que deixa a representação nacional ao parlamento europeu praticamente imutável mas profundamente beliscada na sua legitimidade.
Economista