Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
A guerra comercial que os Estados Unidos decidiram declarar à China tem sido pontuada por negociações seguidas de aumentos tarifários. A mais recente batalha deste confronto consistiu num novo e brutal aumento de tarifas por parte dos norte-americanos logo seguido de uma retaliação da mesma magnitude por parte da China.
Esta guerra económica está já a travar o comércio mundial e a prejudicar não só os dois beligerantes mas todos as restantes economias, incluindo a portuguesa.
No curto prazo os Estados Unidos procuram tornar o acesso dos produtos chineses ao mercado norte-americano mais caros e logo menos competitivos. Parece uma estratégia que poderá efetivamente ter um forte impacto numa economia de forte pendor exportador como a chinesa.
Contudo há que contar com dois outros fatores: o primeiro prende-se com as alternativas a curto prazo para os produtos chineses, o segundo com a moeda.
Para os produtos em que não é possível encontrar alternativa no curto prazo e ao mesmo preço o aumento de tarifas significa apenas um acréscimo de custo para os consumidores americanos. Na verdade para esses produtos será apenas um acréscimo de imposto semelhante ao resultante de um aumento da taxa do IVA, isto é o consumidor paga integralmente ou parcialmente as novas tarifas aduaneiras.
Para os outros produtos a China tem respondido com uma desvalorização do Yuan. Na última semana um dólar trocava-se por 6,92 Yuans uma acentuada descida da moeda chinesa.
Com esta desvalorização os importadores americanos poderão continuar a comprar os produtos chineses e a coloca-los no mercado aos preços habituais. A diminuição do valor da moeda chinesa pode absorver o aumento de custo devido às novas tarifas impostas por Donald Trump.
Desvalorizando a sua moeda e impondo tarifas aos produtos americanos a China consegue evitar o choque nas suas exportações e conter as importações que faz dos Estados Unidos. Uma resposta que tende a neutralizar a política agressiva de Trump.
É uma política que tem de ser bem calibrada uma vez que uma desvalorização excessiva do Yuan pode levar a uma prejudicial fuga de capitais. O governo chinês tem de utilizar esta arma defensiva com cautela e com parcimónia.
Veremos se com esta resposta, aumento simétrico de tarifas e desvalorização controlada, a China consegue conter a ofensiva americana e criar as condições para uma saída negociada da contenda.
Um bom exemplo de como mantendo a sua moeda um país se pode defender numa disputa económica internacional e manter a sua competitividade nos mercados globais. Sem a sua moeda a China estaria seguramente muito mais desprotegida. Como em Portugal bem percebemos por experiência própria.
Economista