Óscar Afonso, Dinheiro Vivo (JN / DN)

O futuro passará pelo sector social, promotor de uma democracia funcional, eficiente e moderna, com maior peso na criação de valor e de emprego

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Para muitos, talvez a maioria, o mundo do Empreendedorismo, das Empresas, da Gestão e da Economia é frio, calculista, dominado pela concorrência e pela frieza dos lucros. A ideia preconcebida considera que, numa economia de mercado, quem não procede bem é eliminado, e quem é mais competente cresce, domina e adquire sucessivamente mais poder. A preocupação social no mundo ocidental seria então desajustada e estaria, por isso, muito longe da realidade.

Mas, quem estuda Economia e quem aprofunda casos de sucesso sabe que a análise fria e calculista não é rigorosamente verdadeira. Primeiro, os casos de sucesso – de empresas, famílias e/ou países – estão geralmente associados a valores que ultrapassam a disciplina e a racionalidade económica, passando, muitas vezes, também pelo (indecente) favorecimento público. Depois, é claro que os grandes avanços económicos, financeiros e empresariais são explicados pela maior e melhor capacidade de gerar colaboração entre pessoas, empresas e organizações. Finalmente, é necessário refletir sobre o sector social, uma realidade que envolve o público e o privado, que não exclui o lucro, que acomoda todos e, porque promove o emprego e o crescimento económico, que é um instrumento para realizar finalidades humanas e sociais, já que sem o qual os avanços científicos, artísticos, culturais e sociais dos países seriam menos evidentes.

O sector social tende a ser sério, honesto, responsável diante dos riscos e desejoso de alcançar todos os que podem ser atingidos pelas suas decisões. É um sector que só faz sentido por ter os outros no centro das suas preocupações, que apoia cidadãos vulneráveis ou em exclusão social, que busca a competência para servir, que não abusa dos mais fracos e que não é obsessivo com o lucro. Dadas as preocupações, é necessariamente um sector que procura dar frutos, que envolve, que é exigente consigo e, nesse sentido, que é competitivo.

É ainda um sector cumpridor, que olha para as obrigações como dever cívico e, por isso, que promove a integridade nas relações comerciais, que paga os impostos devidos, que cumpre a lei, que recusa a corrupção, e que contribui para a coesão social e o saneamento das asneiras públicas induzidas por políticos malfeitores que, como sabemos, mais cedo ou mais tarde criam, de per si, um rasto de desemprego, miséria e pobreza. Mas, mais do que isso, pode ser um seguro a favor da democracia ao promover a igualdade social e económica e a participação de todos.

É, finalmente, um instrumento precioso de coesão territorial ao estar presente, quer nas zonas problemáticas de grandes centros urbanos, quer nos lugares mais remotos do mundo rural. As IPSS, as Misericórdias, as Cooperativas, as Mutualidades, as Associações de desenvolvimento local, de recreio e lazer, as Fundações e outras organizações, formam uma rede determinante de sustentação da coesão territorial e desenvolvimento local.

Assim, sem desvalorizar toda a sofisticação e toda a relevância da análise tradicional, o carácter decisivo do capital emocional das organizações, o estudo do empreendedorismo social, a adesão espontânea a objetivos de responsabilidade corporativa e ao voluntariado, e o entusiasmo que hoje existe pela economia social são uma prova de amor, resumida no princípio simples de tratar todos como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no seu lugar. O futuro passará certamente pela importância crescente do sector social, promotor de uma democracia funcional, eficiente e moderna, com cada vez maior peso na criação de valor e de emprego, e promotor de uma melhor distribuição do rendimento, de cidadania, e de inclusão social e territorial.