Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

No século XVI D. Manuel, talvez o pior governante deste país, agiu deliberadamente contra a diversidade, e condenou o nosso país ao declínio e, em poucos anos, à perca da independência.
 

A sociedade portuguesa sempre foi muito diversa desde os seus primórdios. Mas as elites nunca conviveram bem com essa diversidade. É imperioso mudar.

Os berberes, os árabes e os judeus a par com os descendentes dos visigodos aliados a gentes vindas do que hoje é a França e do norte da Europa formavam o Portugal dos primeiros reis. A diversidade étnica e religiosa era notável. Ela deu origem a uma sociedade vibrante que, num momento de crise, em 1383, se soube defender de uma potência mais forte e empreender com a ajuda de genoveses e outros um aperfeiçoamento da técnica e das ciências da navegação.

Mas o declínio instalou-se com a expulsão de judeus e muçulmanos, com a instituição da Inquisição e o fim da liberdade de pensamento e com a criação do vil comércio transatlântico de pessoas escravizadas em África. E em poucos anos Portugal passou de um breve período de apogeu para um país sem futuro que logo foi incorporado sem resistência no Reino dos Filipes espanhóis.

Hoje Portugal é de novo um país diverso. Os negros, sempre presentes desde o século XV, são hoje uma considerável minoria da população, os ciganos, esses grandes resistentes persistem e muitas outras minorias, nomeadamente asiáticas e latino-americanas, se incorporaram no todo nacional.

As religiões proliferam, as identidades sexuais afirmam-se, as diferenças ideológicas são marcadas, as deficiências assumem-se como diferenças. Toda uma riqueza e diversidade convive e agrega-se na sociedade portuguesa.

Mas quando olhamos para os possíveis eleitos que nos preparamos para enviar para o Parlamento Europeu, fruto das escolhas dos principais partidos políticos, essa diversidade esfuma-se, apaga-se, desaparece.

No século XVI D. Manuel, talvez o pior governante deste país, agiu deliberadamente contra a diversidade, e condenou o nosso país ao declínio e, em poucos anos, à perca da independência.

Hoje as escolhas das direções partidárias, escolhendo deliberadamente impedir a diversidade da representação política no Parlamento Europeu, dão um sinal claro do afastamento das minorias étnicas dos partidos dominantes e da afirmação de uma vontade de as excluir do processo de decisão política.

As mulheres estão hoje representadas no poder político e nas listas europeias por uma Lei de Quotas que torna obrigatória a sua presença. Sem essa Lei nunca as mulheres passaram de uma pequena minoria inexpressiva. É preciso estender essa prática a outros grupos. Essa é a principal reforma do sistema político-eleitoral que Portugal pode fazer para reduzir a abstenção, reconciliar eleitos e eleitores e garantir uma governabilidade em prol de todos e não de pequenos grupos privilegiados.

Economista