Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Na Colômbia a empresa foi acusada de contratar assassinos dos grupos paramilitares para aterrorizarem as populações e as forçarem a vender as terras depois rapidamente transformadas em minas de carvão. Foram expostos no escândalo que ficou conhecido como o Carvão de Sangue.

Glencore, a poderosa multinacional britânico-suíça, está novamente sob investigação desta vez pela Comissão de Mercados de Futuros sobre Mercadorias (US Commodity Futures Trading Commission - CFTC) anunciou a própria empresa. 

Esta empresa emergiu como um forte conglomerado com interesses em várias áreas desde a negociação bolsista de mercadorias quer nos mercados à vista quer nos mercados de futuros, à mineração, à energia e à agricultura. A vertente mineira constitui mesmo um dos seus pilares essenciais, explorando minérios na Austrália, no Congo, na Zâmbia, na Nigéria, na África do Sul, na Colômbia, no Brasil e noutros locais.

Apesar de pouco conhecida em Portugal é a maior empresa suíça mantendo uma posição dominante nos mercados mundiais do zinco e do cobre.

Em causa práticas de corrupção e de violação das leis dos mercados de mercadorias. Nos últimos anos a Glencore tem enfrentado várias acusações de corrupção em mercados tão diversos como o Brasil, Zâmbia, Colômbia e os Estados Unidos.

A sua história está cheia de casos de evasão fiscal, corrupção, violação das regras de mercados e até terrorismo. O seu fundador Marc Rich chegou inclusivamente a ser condenado nos Estados Unidos por evasão fiscal mas acabou perdoado pelo Presidente Bill Clinton.

Na Colômbia a empresa foi acusada de contratar assassinos dos grupos paramilitares para aterrorizarem as populações e as forçarem a vender as terras depois rapidamente transformadas em minas de carvão. Foram expostos no escândalo que ficou conhecido como o Carvão de Sangue.

Apesar destes sucessivos escândalos nem a empresa, nem os seus dirigentes sofreram qualquer revês continuando as suas atividades como se nada se passasse.

Para além das investigações da CFTC também as autoridades judiciais americanas continuam as suas pesquisas, tendo a empresa gasto em 2018 cerca de 24 milhões de dólares na sua defesa judicial nos Estados Unidos.

Eis um caso paradigmático de uma grande multinacional que até recentemente parecia acima da Lei e que se confronta agora com autoridades judiciais e de regulação de mercados.

Os resultados destas diligências são importantes para a economia global. Estarão as grandes multinacionais acima das Leis ou têm que se submeter como todas as outras empresas às regras dos países em que atuam? E serão os EUA no mundo ocidental os únicos a conseguir fazê-lo?

Economista