Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

As telecomunicações na Europa estão em crise, vergadas pela concorrência desenfreada, pela desregulamentação e pela estagnação das receitas. A redução de trabalhadores parece ser a solução que as grandes empresas encontraram para tentar manter a alta rentabilidade do setor.

As ações da Proximus, a antiga Belgacom, o gigante das telecomunicações belgas, foram suspensas no dia 9 de janeiro último pela autoridade de mercado (FSMA) na sequência de rumores de que se preparava para despedir cerca de 15% dos seus empregados, cerca de 2.000 pessoas. Simultaneamente a FSMA chamou a presidente da empresa Dominique Leroy para explicações. Estas foram céleres: a empresa vai por em prática um plano de despedimento de 1.900 empregados (1 em cada 7 trabalhadores).

A empresa justifica a sua ação pela pressão que a autorização do Governo de conceder uma quarta licença, isto é autorizar mais um concorrente, vem colocar sobre a empresa. No mercado belga, país com 11 milhões de habitantes, operam 3 empresas de telecomunicações: a Proximus, líder do mercado, a Orange e a Telenet/Base. A Free Mobile, subsidiária da Iliad, é o quarto operador aprovado pelo Governo.

A francesa Iliad, fundada por Xavier Niel, tem vindo a expandir-se com base numa política agressiva de preços baixos em vários países, nomeadamente em Itália em que oferece um pacote 4G+30 por apenas 5,99€ e na Irlanda onde adquiriu recentemente a Eir.

Recorde-se que o Governo belga, liderado por Charles Michel, que em dezembro apresentou a sua demissão na sequência do pacto das emigrações da ONU, é uma coligação de partidos liberais-conservadores de língua francesa e holandesa. A decisão de alargar o número de operadores foi muito contestada pelos sindicatos que temiam despedimentos nas empresas atuais.

Curiosamente, ou talvez não, a Proximus adotou regras sobre Direitos Humanos e Condições de Trabalho. Ao nível dos Direitos Humanos pode ler-se na declaração da empresa que "As pessoas têm o direito de ser tratadas com respeito, solicitude e dignidade. As atividades comerciais da Proximus apenas terão sucesso se respeitarmos os Direitos Humanos e valorizarmos a diversidade, cultural e outra".

Em 2008 no início da crise a Proximus tinha mais de 17 mil trabalhadores e ao longo destes 10 anos reduziu a força de trabalho para pouco mais de 13 mil, lançando 4 mil pessoas no desemprego. Agora prepara-se para enviar mais 1.900 para a rua. É assim que trata os seus empregados "com respeito, solicitude e dignidade". Naturalmente que o sucesso comercial da empresa está ameaçado.

Mas a crise das telecomunicações não se restringe à Bélgica. Na Holanda a KPN, a maior operadora de telecomunicações, anunciou também um plano de despedimento de 1.500 trabalhadores.

Igualmente a Vodafone, o grupo britânico, tornou público na semana passada a intenção de avançar com o despedimento coletivo de 1.200 trabalhadores da sua filial em Espanha.

E na Alemanha a Deutsche Telekom tem um plano de despedimento de 6.000 pessoas a executar entre este ano e 2021, i.e. 2.000 pessoas em média por ano durante três anos.

As telecomunicações na Europa estão em crise, vergadas pela concorrência desenfreada, pela desregulamentação e pela estagnação das receitas. A redução de trabalhadores parece ser a solução que as grandes empresas encontraram para tentar manter a alta rentabilidade do setor.

Que esperar para Portugal? Fica o alerta.

Economista