Ricardo Passos, Visão online
Há discursos tão maravilhosos sobre a situação económica portuguesa mas o metropolitano tem cada vez menos regularidade e não aumenta o material circulante.
Há muitos anos que me preocupo com a existência de fraudes, e conheço várias classificações desta. Contudo foi com surpresa que ouvi falar num canal televisivo em “fraude anal”. O tema surge a propósito de um caso bem mediático envolvendo um jogador de futebol conhecido de todos e a definição de tal tipo de fraude aparece detalhada na CMTV. Basta procurar no youtube e ficam com uma visão, quiçá errada sobre a utilização do termo fraude. Segundo o programa tal verifica-se quando alguém anuncia ir por um caminho prazenteiro mas depois vai por outro, sem visão e muitas vezes doloroso.
Este «conhecimento» da mesma forma que me surgiu, rapidamente iria desaparecer dos meus pensamentos.
Ou não. Em dia de Web-Summit, fui para o trabalho de manhã como sempre vou, de metropolitano. Em plena hora de ponta estive 12 minutos a aguardar pela composição que costuma passar de 5 em 5 minutos e claro que quando chegou vinha a abarrotar. Não pretendendo chegar ainda mais atrasado ao trabalho lancei-me para dentro da carruagem perante o olhar incrédulo de uma senhora o qual passou de incrédula a incomodada com o contacto físico que eu lhe impus. Apesar de evidente tive de balbuciar que eu tinha pago o meu bilhete e tinha tanto direito a estar ali como os outros.
Nesse dia as minhas cogitações levaram-me a tentar perceber como é que é possível haver discursos tão maravilhosos sobre a situação económica portuguesa e como é que isso se compaginava com o facto de o metropolitano de Lisboa ter cada vez menos regularidade na sua oferta, do aumento evidente de passageiros e do não aumento do material circulante.
Mas o metropolitano de Lisboa não é caso único. O que se passa na CP é uma ode às políticas de desinvestimento dos últimos anos. Recordo-me também que faz um mês fui à esquadra da zona da minha residência onde estavam 8 viaturas policiais, mas o agente de serviço confidenciou-me que só 2 trabalhavam. As outras aguardavam autorização para reparação.
Mas como chegamos aqui? Analisemos o modelo de governação actual. Apresente-se um orçamento, com investimento público e social para satisfação dos partidos da coligação e depois passe-se toda a despesa pelo nó górdio das cativações para satisfação de Bruxelas.
O processo das cativações parece afectar tudo por igual, cortando em todo o lado. Bem, em tudo não, porque a contratação de dezenas de assessores para os ministérios e secretarias de estado não aparenta ter restrições. Igualmente a comunicação social tem influência na execução orçamental. Lembro-me das obras na ponte 25 de Abril que só foram feitas porque alguém quase foi atingido na queda de uma peça de muitos quilos que se desprendeu da ponte e chamou os media. Os investimentos anunciados para a CP também só surgiram após divulgação mediática do estado das coisas, ainda assim vão demorar anos até começarem a ter efeito real. Foi necessário haver as desgraças do ano passado nos incêndios para este ano se ter feito algum investimento.
Governar implica tomar decisões, definir prioridades e seguir uma estratégia de fundo para o desenvolvimento económico e social do país.
Apresentar orçamentos e depois gerir pela não execução ou de acordo com as situações mais mediáticas não é governar. Mas encaixa perfeitamente na definição do tipo de «fraude» anteriormente referida.