Pedro Moura, Jornal i
O Índice de Felicidade é calculado a partir de seis indicadores – PIB per Capita (ajustado ao custo de vida), Suporte Social, Expectativa de Longevidade, Liberdade Para Fazer Escolhas, Generosidade e Percepção de Corrupção.
No seguimento da minha última crónica sobre 'impostos e Felicidade' (https://ionline.sapo.pt/627519) dei por mim a matutar mais e mais no tema da Felicidade (ou Infelicidade). No momento em que escrevo estas linhas é a minha temática preferida.
Para começo, acho que os portugueses têm uma relação complicada com o tema da Felicidade. Por um lado são portugueses, e consequentemente humanos, e pressuponho que todos os seres humanos querem ser mais felizes (talvez erradamente...). Por outro lado considero termos uma certa inclinação histórica para a melancolia, o pessimismo, a vitimização e a auto-depreciação.
Mas isto são opiniões, e sendo filosoficamente liberal, acho que a Felicidade é um conceito não só enormemente subjetivo, mas sobretudo pessoal.
No entanto as pessoas vivem juntas, formam países. E para sair do campo meramente opinativo, propus-me procurar perceber 1) qual o grau de Felicidade de Portugal, 2) como se compara com outros países congéneres, e 3) o que poderia ser feito para Portugal ser mais feliz. Grandes objetivos, mas toda a maratona começa com o primeiro passo.
Para esta buscar utilizei (mais uma vez) os dados do WHR18 - World Happiness Report de 2018 (http://worldhappiness.report/), uma leitura que aconselho a todos os que se preocupam com este tema e gostavam de saber mais.
Nota: toda a referência a 'Felicidade' no restante texto deve ser encarada como ao nível nacional e coletivo, não pessoal.
1 - Quão feliz é Portugal
A boa notícia é que Portugal está na Europa Ocidental, uma das melhores zonas do planeta, quer a nível do Índice de Felicidade, quer ao nível da baixa variação deste mesmo índice entre os vários países deste bloco, indicando menos assimetrias entre os mesmos (página 15 do WHR18).
A má notícia é que quando olhamos para Portugal no panorama mundial, o resultado é menos animador: estamos na 77ª posição entre os 156 países envolvidos (página 21 do WHR18). Para ficarem com uma ideia da nossa 'companhia' neste índice peço a vossa atenção para a imagem 1 abaixo.
Não sei quanto ao leitor, mas ao olhar para esta lista fiquei incomodado, a sentir que talvez a nossa baixa auto-estima enquanto povo tenha alguma razão de ser.
2 - Como se compara Portugal com outros países Europeus
7 dos 10 primeiros países deste Ranking são Europeus. 15 dos 25 primeiros países deste Ranking são Europeus.
Para efetuar uma análise comparativa tratei os dados quantitativos base disponíveis com o WRO18 e selecionei um conjunto de 20 países Europeus que considerei congéneres com Portugal.
O Índice de Felicidade é calculado a partir de seis indicadores, a ver: PIB per Capita (ajustado ao custo de vida), Suporte Social, Expectativa de Longevidade, Liberdade Para Fazer Escolhas, Generosidade e Percepção de Corrupção.
A imagem seguinte mostra a posição de Portugal em relação a este grupo de países ao longo dos vários indicadores, não só em termos absolutos, mas também em termos de desvio do valor de cada indicador em relação à média do mesmo.
Mais uma vez se observa que ficamos mal nesta comparação, em antepenúltima posição neste grupo, 17% abaixo do valor médio no Índice total.
3 – Como melhorar o Índice de Felicidade para Portugal
Não querendo nem podendo entrar em investigações mais aprofundadas, olhando para a tabela acima, no caso de Portugal, rapidamente constatamos que no que toca aos indicadores de PIB per Capita (ajustado ao custo de vida), Suporte Social, Expectativa de Longevidade e Liberdade Para Fazer Escolhas Portugal não está longe da média, estando no caso de alguns indicadores (Longevidade e Liberdade de Escolha) até acima da média.
Os indicadores que estragam tudo são a Generosidade e a Percepção de Corrupção, com especial relevo para este último.
Centrando-me na Perceção da Corrupção, e para um melhor entendimento, os valores deste indicador para os vários países resultam das seguintes questões efetuadas às pessoas:
“Há corrupção generalizada no Estado ou não?”
“Há corrupção generalizada nas empresas e negócios ou não?”
São questões subjetivas, e logo as respostas também o são. Ou seja, a medida aqui é da perceção das pessoas sobre este tema, não certezas provadas objetivamente.
Todavia, para bom entendedor meia palavra basta: segundo este relatório, embora os portugueses por um lado tenham uma boa perceção generalizada do país, por outro não acreditam na capacidade das instituições e líderes do nosso país em assegurarem um clima económico justo e são, em que corrupção e fraude não soneguem recursos ou favoreçam indevidamente os perpetradores destes fenómenos. E quem não confia, desconfia, retrai-se, vive em manha e inveja, não cria, antes se tenta aproveitar quando e como pode para ficar com o seu quinhão.
Ou seja, se me perguntarem hoje como pode Portugal ser mais feliz, a minha resposta seria: eleja-se o combate à corrupção e fraude, o fortalecimento das instituições e a educação da sociedade para uma ética de justiça, honestidade e mérito como grandes prioridades nacionais.
E, como diria o Raul Solnado, “Façam o favor de ser felizes”. Eu acrescentaria, todos os dias.