Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Neste verão, pessoa chegada esteve na costa oeste dos Estados Unidos para desenvolver um relevante projeto de investigação científica. Durante a sua estadia, de vários meses, utilizou diversas vezes a Uber nas suas deslocações.
Numa dessas viagens apanhou uma condutora muito faladora que lhe foi contando a sua vida. Trabalhava para a Uber há já algum tempo na cidade de São Francisco. O seu objetivo era o de fazer um certo número de viagens durante um determinado período de tempo. Isso implicava longas e extenuantes horas de trabalho por dia. Quase sempre conseguia cumprir o seu objetivo.
Mas apesar desse desempenho muito positivo esta condutora era uma sem-abrigo, dormindo no carro, não ganhando o suficiente para alugar uma casa ou arrendar um simples quarto. De dia conduzia ao serviço da Uber, à noite dormia no automóvel. Uma vida dura de trabalho duro que lhe oferecia como recompensa uma existência à beira da privação total. O famoso pesadelo que há muito povoa o sono norte-americano.
Vem esta história a propósito das lutas que os taxistas têm vindo a empreender para impedir que um mercado de transporte individual de passageiros totalmente irregulado possa ser estabelecido em Portugal prejudicando os empresários e os profissionais do setor bem como, em última análise, os clientes.
Controlando os clientes, a Uber pode, se não regulada, estabelecer condições tais com os seus condutores que os levem à situação da pobre e infeliz norte-americana.
Mas também não é possível recusar o progresso que as novas plataformas online permitem. Que solução então? Um exemplo interessante vem da Suécia.
A Suécia, país de dimensão populacional semelhante ao nosso, tem um mercado em que o acesso à profissão está condicionado ao cumprimento de uma série de regras de segurança para defesa dos passageiros nos carros, competência de condução profissional dos taxistas, transparência nas condições de preço e outras de caráter técnico. Não existe condicionamento ao número de táxis, nem determinação administrativa de preços.
É um setor que na Suécia movimenta cerca de 800 milhões de euros por ano e em que existem cerca de 16 mil táxis, agrupados em várias empresas e cooperativas.
Estas empresas e cooperativas suecas não possuem carros, funcionam em regime de "franchising", gerindo a marca, os requisitos de entrada, as condições que os associados devem cumprir e garantindo clientes através de contratos com as maiores empresas do país e de uma central telefónica. Os donos dos táxis por sua vez exploram-nos pessoalmente ou contratam motoristas. Nestes aspetos, o mercado sueco é muito semelhante ao português.
A maior empresa de táxis sueca é a Táxi Kurir com um volume de negócios de 100 milhões de euros por ano e que opera em 43 cidades. Esta empresa introduziu um novo modelo de preço: o preço pré-fixado.
Assim, quando o cliente liga para a central e diz de onde quer sair e onde quer chegar, é-lhe dado um preço e este é que lhe é cobrado independentemente do tráfego que houver ou do tempo que seja necessário para fazer o percurso.
Este preço fixo retira dos ombros do cliente toda a incerteza do preço, já que ao entrar num táxi nunca se sabe quanto se vai pagar pela corrida. Vários estudos de mercado, na Suécia e noutros países, têm confirmado que a remoção desta incerteza é um dos mais importantes desejos dos utentes de táxis.
Mais do que permitir que empresas estrangeiras, operando ilegalmente, possam levar os proveitos deste negócio para o exterior, o que precisamos é de uma regulamentação que permita às empresas existentes inovar, nomeadamente na área dos modelos de preço para que possam melhorar a sua oferta e serviço aos utentes.
Em suma, a sociedade deve apoiar os taxistas portugueses e ajudá-los a modernizar-se em moldes que sejam benéficos para todos.
Este artigo deve muito ao trabalho de Carl Johan Petri, que descreve o mercado sueco e o modelo de preço inovador da Táxi Kurir.
Economista