Manuel Castelo Branco, Visão online

O combate à fraude e fenómenos associados é parte importante dos desafios século XXI.

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Recentemente, no passado dia 5 de Setembro, ocorreu a cerimónia de Jubilação de Carlos Pimenta, Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Do seu curriculum vitae excecional destaca-se neste texto o facto de ser sócio fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, principal responsável pela sua criação e desenvolvimento e seu primeiro presidente.

No âmbito da cerimónia de jubilação, Carlos Pimenta deu a sua última aula na FEP, sobre o tema “A fraude económico-financeira e o ensino”. Do texto de apoio a tal aula, disponibilizado a quem a ela assistiu, saliento algumas afirmações com as quais não posso deixar de concordar. A primeira é a de que “o paradigma atualmente dominante na Economia, na mesma sequência social dos fatores conducentes à intensificação da fraude a partir dos anos 80 do século passado, é propiciador ao cometimento de fraudes”. Carlos Pimenta explicou esta afirmação, afirmando que tal paradigma (o da “gestão ótima de recursos escassos”), “fortemente impregnado de normatividade, individualismo e racionalidade instrumental, facilita a entrada dos economistas numa cultura diferencial de cometimento de fraude”. Mais ainda, defendeu a necessidade de “um pluralismo teórico no ensino da Economia e uma maior atenção à racionalidade axiológica”.

Como mencionado em crónica anterior, escrita há pouco mais de dois anos, com o título “A importância da educação em Economia”, os próprios estudantes de Economia têm manifestado a sua frustração relativamente ao ensino desta ciência social. Foram criadas várias iniciativas de cariz nacional, como o Mouvement des étudiants pour la réforme de l’enseignement de l’économie (França) ou a Post-Crash Economics Society (Reino Unido), ou internacional, como a International Student Initiative for Pluralism in Economics. Em Portugal, para além do Coletivo Economia sem Muros, criado por estudantes da Nova SBE (a Escola de Economia e Gestão da Universidade Nova), destaca-se entre as iniciativas deste tipo o Coletivo Economia Plural, coletivo de estudantes do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Na página web desta última iniciativa (https://ceplural.wordpress.com/), afirma-se querer um ensino em economia “sem enviesamento ideológico, contextualizado historicamente, metodologicamente consciente e plural”.

Entre os professores, há também muitos com grande interesse em alterar o estado das coisas, tendo também estes criado iniciativas no sentido de reformar o ensino da Economia. Um exemplo recente é o projeto Curriculum Open-Access Resources in Economics (CORE), lançado em 2012, no âmbito do qual foi produzida uma plataforma de acesso livre (https://www.core-econ.org/) para todos aqueles que “querem compreender a Economia da inovação, desigualdade, sustentabilidade ambiental e mais”. Também no âmbito do projeto CORE foi produzido um livro com o título “The Economy”, publicado pela Oxford University Press em 2017 e disponível gratuitamente em formato eletrónico em https://www.core-econ.org/the-economy/index.html. No prefácio a este livro, os seus autores afirmam querer que “tantas pessoas quanto possível sejam capazes de raciocinar sobre, e agir para confrontar, os desafios da economia, sociedade e biosfera do século XXI”.

Ora, o combate à fraude e fenómenos associados é parte importante dos desafios do século XXI. Em particular, a fraude económico-financeira “é um assunto suficientemente importante na actividade profissional dos economistas ou gestores e num comportamento cidadão que a FEP, em particular, e a Universidade, em geral, não o podem descurar”, como afirma Carlos Pimenta, no texto de apoio à aula mencionada acima. Onde se lê “FEP”, deve ler-se “Escola de Economia e Gestão”, qualquer que ela seja. Qualquer Escola de Economia e Gestão deve ter “um espaço institucional para o debate do problema, para a consciencialização dos seus estudantes, e professores, e uma atitude formativa nessas problemáticas”, como afirma Carlos Pimenta, referindo-se especificamente à faculdade onde tem lecionado.