Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Recentemente um empresário sul-africano branco, Adam Catzavelos, em férias na Grécia colocou nas redes sociais um pequeno vídeo em que descreve a praia paradisíaca onde se encontrava rematando com um comentário racista.
A onda de protesto no seu país e um pouco por todo o mundo foi tal que a própria família, face a um boicote dos produtos e serviços que fornece, o veio, para salvar a situação, renegar e acusar de racista afastando-o de todas as empresas que possuem e retirando-lhe mesmo a participação acionista que detinha. O próprio irmão colocou online um vídeo em que o acusa de racista empedernido.
Mas a onda de prejuízos causados não se circunscreveu ao negócio familiar atingindo em cheio a multinacional Nike. É que a mulher de Adam Catzavelos é uma das gestoras dessa marca de artigos desportivos e o boicote e a fúria dos consumidores alastraram também aos produtos desportivos que comercializa.
Segundo a agência Reuters, várias lojas da Nike fecharam em Joanesburgo e a redução de vendas foi suficientemente grande para obrigar a empresa a demarcar-se dos comentários de Adam Catzavelos e a emitir um comunicado afirmando o seu empenhamento numa sociedade plural e inclusiva.
Outro caso recente foi o da H&M, empresa sueca de moda, que teve de retirar um anúncio racista e pedir desculpas pelo seu ato. As reações contra a campanha publicitária racista envolveram celebridades do mundo da música e do desporto como o famoso basquetebolista afro-americano LeBron James. Alguns artistas patrocinados pela H&M cancelaram os seus contratos em protesto. De acordo com o Washington Post, a empresa tem vindo a envolver-se em mais casos de racismo nos últimos anos. Note-se que as cotações desta multinacional nórdica afundaram cerca de 60% nos últimos anos.
A forte reação dos consumidores mostra que estes não estão mais dispostos a tolerar comentários e atitudes racistas das empresas e dos empresários.
Em muitos países, os consumidores estão bem alerta reagindo de pronto contra estas atitudes, noutros, como em Portugal, a consciência está a despertar. As associações de consumidores e cívicas têm aqui um papel importante de sensibilização do público.
Mas, em geral, é hoje bem claro que o racismo não será tolerado nos mercados e que as empresas que persistam nessa via ou que acolham racistas nos seus quadros dirigentes pagarão um preço elevado em termos de vendas e lucros.
É caso para dizer que o crime não compensa. Ainda bem.
P.S. – No meu artigo da semana passada escrevi que não existiam clubes de carros em Portugal. Vários leitores e amigos atentos chamaram-me a atenção para a presença de três clubes desta natureza no nosso país. No entanto, o baixo volume de negócios e mesmo o encerramento de um outro mostram que as condições de mercado não são as melhores para este negócio, mantendo assim o principal ponto do artigo: de que as políticas erradas de transportes e de horários laborais, impedem o florescimento de clubes de carros. Aos que ajudaram a repor a verdade, o meu sincero agradecimento.