Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Parece ser o negócio perfeito, ganha o clube, obtendo lucros, ganha o aderente, concretizando poupanças, ganha o Estado, arrecadando os impostos correspondentes, ganha o ambiente, reduzindo-se as emissões de CO2 e ganha a sociedade.

Os clubes de carros ("car clubs") são uma realidade com mais de duas décadas em muitos países desenvolvidos. Trata-se de um negócio lucrativo, de uma variante do tradicional aluguer de carros.

Os clubes de carros, como os antigos clubes de vídeo, têm aderentes que pagam uma quota periódica, normalmente mensal, e adicionalmente um valor fixo horário sempre que utilizam um dos automóveis do clube. Os carros podem ser requisitados no mínimo por 30 minutos e no máximo por um fim de semana completo.

As vantagens para o aderente são grandes quando contrastadas com os benefícios da compra e manutenção de um carro próprio. No Reino Unido, algumas comparações indicam que o utilizador médio pode poupar mais de 4.000 euros anuais (cerca de 330 euros mensais). Além da poupança financeira, o aderente livra-se de todas as maçadas referentes a manutenção, seguros, parqueamento, etc.

Em Inglaterra, por exemplo, a Ecar, uma filial da gigante Europcar, cobra cerca de 5 euros por hora. Para ser membro é necessário pagar uma joia inicial de 60 euros e uma mensalidade de cerca de 20 euros.

Esta modalidade é também amiga do ambiente na medida em que por um lado permite rentabilizar recursos, um carro para vários utilizadores, e por outro porque os clubes estão a adotar cada vez mais os carros elétricos.

Parece ser o negócio perfeito, ganha o clube, obtendo lucros, ganha o aderente, concretizando poupanças, ganha o Estado, arrecadando os impostos correspondentes, ganha o ambiente, reduzindo-se as emissões de CO2, ganha a sociedade com a diminuição de importações de automóveis e de combustíveis.

Assim sendo porque não existe este atrativo negócio em Portugal? Nenhum dos tantos génios, cheios de mérito familiar, que compõem a nossa elite empresarial se lembrou?

A realidade é, provavelmente, outra. Com uma oferta de transportes públicos muito limitada, os portugueses têm de recorrer ao transporte privado, carro, mota, bicicleta, para garantir a sua mobilidade. Muitos, infelizmente, acabam imobilizados, no sentido de presos ao perímetro que conseguem percorrer a pé.

A falta de transportes públicos, em termos de qualidade, frequência e cobertura geográfica obriga à utilização maciça do automóvel.

Assim, o condutor português seria necessariamente um utilizador muito frequente e por períodos longos. Por outro lado, Portugal funciona ainda em termos quase provincianos quando comparado com outras metrópoles europeias em termos de horários, com uma grande coincidência de horas de entrada e saída dos empregos, não dispersando temporalmente o fluxo do tráfego.

Nestas circunstâncias, um mesmo carro não poderia ser facilmente partilhado, o que levaria a um preço mais elevado do que a alternativa de compra de carro.

Naturalmente, o negócio poderia funcionar em termos de certos nichos e a sua ausência apenas demonstra a falta de empreendedorismo local, mas em termos de volumes consideráveis ele é impraticável nas atuais circunstâncias.

Um bom exemplo de como políticas públicas erradas nos transportes e horários de trabalho prejudicam a economia, limitam as oportunidades empresariais privadas, o ambiente e a sociedade como um todo.