Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Na ausência de capacidade de inovação e investimento em larga escala, o euro é uma restrição tão forte à nossa competitividade que nos impede de crescer de forma a melhorar os níveis de vida da população.

De acordo com as previsões anunciadas no início deste mês de julho pela FocusEconomics, uma das maiores e mais prestigiadas empresas de estudos de previsão e análise macroeconómica, confirma-se a tendência de desaceleração do crescimento na União Europeia, embora os diversos países evoluam de forma diferenciada.

As previsões para Portugal apontam para uma desaceleração acentuada do crescimento que poderá evoluir de um crescimento de 2,2% do último trimestre de 2018 para 1,8% no mesmo período do próximo ano. Relativamente a 2020, os números apontam para um crescimento de apenas 1,7% e em 2022 de somente 1,2%.

O nosso país está, pois, a entrar num novo longo período de estagnação e de empobrecimento relativo aos nossos principais parceiros da União Europeia. Veja-se que Portugal desde a entrada no euro não conseguiu ter nenhum período de crescimento acima de 3% por mais de dois anos consecutivos e tem sofrido alternadamente recessões seguidas de longos anos de estagnação.

No entanto, a guerra aduaneira com os Estados Unidos, as novas sanções ao Irão, a continuação das sanções à Rússia, a forma desastrosa como o Brexit está a ser gerido pela União Europeia, o rebentar da bolha imobiliária em crescimento na Área Metropolitana de Lisboa, a reabertura mais rápida dos mercados turísticos do Norte de África, são fatores que poderão influenciar negativamente a economia nacional e transformar a estagnação prevista numa recessão não surpreendente.

Não tendo crescido o suficiente para diluir a dívida externa, continuando com níveis elevados de crédito malparado que fragilizam o sistema bancário, perdida para a emigração parte significativa da geração mais jovem e mais escolarizada, com uma população diminuída e os serviços públicos em sérias dificuldades, com uma bolha imobiliária em crescimento descontrolado, com os salários estagnados, com uma enorme população pobre, Portugal enfrenta este novo período de estagnação ou, eventualmente, de recessão com dificuldades extremas.

A entrada no euro foi um duro revés para as perspetivas anunciadas pelo primeiro-ministro António Guterres de atingir a média europeia numa década. Dois decénios depois de esse objetivo ter sido formulado e assumido pela elite governante, o país encontra-se mais longe dessa meta (pouco ambiciosa) e, aparentemente, sem qualquer estratégia para a reassumir.

Na ausência de capacidade de inovação e investimento em larga escala, o euro é uma restrição tão forte à nossa competitividade que nos impede de crescer de forma a melhorar os níveis de vida da população.

Assim, num contexto em que as gerações mais novas antecipam rendimentos inferiores aos das gerações ativas associados a um aumento da precariedade laboral e a uma diminuição da qualidade dos serviços públicos, a emigração continuará a fazer-se sentir e a população a diminuir, sendo já claro o risco de colapso institucional e económico que tal comporta. Os grandes fogos do ano passado foram já disso um bom exemplo.

Repensar a nossa presença no euro continua, apesar da ausência de debate público, a ser a mais importante questão com que se confronta a sociedade portuguesa.