Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Agora as atenções do movimento alargam-se para o mundo da finança, com vários grandes investidores globais a exigir dos gestores e das empresas que divulguem o seu histórico em termos de casos de assédio sexual.

O #MeToo, movimento internacional contra o assédio sexual, embora estranhamente silencioso em Portugal, tem avançado por várias áreas da atividade humana em que a violência e a conduta sexual inapropriada se manifestam. O movimento ganhou visibilidade com as acusações a Harvey Weinstein um famoso patrão de Hollywood fundador da produtora cinematográfica Miramax, entretanto, preso e em julgamento.

Agora as atenções do movimento alargam-se para o mundo da finança, com vários grandes investidores globais a exigir dos gestores e das empresas que divulguem o seu histórico em termos de casos de assédio sexual.

Grandes investidores no mercado financeiro, nomeadamente vários gigantescos fundos de pensões norte-americanos, exigem agora uma grande transparência da parte das empresas e dos gestores sobre estes casos como requisito de investimento. Estes grandes fundos não querem ser cúmplices de práticas condenáveis nem de crimes de natureza sexual cometidos sobre mulheres.

Apesar de o movimento ser recente, está a alastrar, e as autoridades reguladoras norte-americanas pensam vir a tomar medidas que obriguem as empresas a tornar públicos estes casos e a forma como tratam com eles.

No ano passado, um dos maiores investidores mundiais, a Fidelity Investments, enfrentou um processo mediático. A decisão da empresa foi drástica e exemplar. O gestor em causa foi sumariamente despedido e, na sequência, a empresa procedeu a uma auditoria interna sobre casos semelhantes que redundou numa série de outros despedimentos.

Muitas empresas cotadas estão já a preparar-se para incluir este tema na lista dos seus valores e criar as condições internas para prevenir, detetar e punir com celeridade este tipo de condutas.

O escrutínio está a aumentar e a opacidade nesta, como noutras matérias, surge aos olhos do mercado e da opinião pública como confissão de más práticas.

Como sabemos, a cultura empresarial portuguesa é particularmente permissiva a este tipo de condutas e tem uma forte tendência para culpar as vítimas e proteger os prevaricadores. Esta atitude tem de mudar.

É importante que as empresas portuguesas especialmente as listadas na Euronext iniciem o seu trabalho de casa, fazendo um diagnóstico profundo da sua situação e tomando as medidas necessárias para poder passar este exigente teste. Não será positivo para as suas cotações ter telhados de vidro.

Por seu lado, os reguladores fariam bem em não esperar por outros e tomar a iniciativa localmente e internacionalmente. Assim, a sua influência no resultado final será seguramente maior e ajudariam as empresas a preparar-se para o que aí virá de regulamentação europeia e internacional.

Perante a mudança, muitas empresas, quais avestruzes económicas, metem a cabeça na areia e pensam "modernices americanas", mas a verdade é que num mundo globalizado os novos regulamentos e requisitos acabam por as afetar mais depressam do que imaginam.