Rute Serra, Visão online

Parece que afinal, as pessoas podem mais rápida e facilmente ganhar poder, se estiverem dispostas a percorrer atalhos e a atuar sem constrangimentos morais. Mas quanto tempo durará a gratificação instantânea que a desonestidade providencia?
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Parece que afinal, as pessoas podem mais rápida e facilmente ganhar poder, se estiverem dispostas a percorrer atalhos e a atuar sem constrangimentos morais. Mas quanto tempo durará a gratificação instantânea que a desonestidade providencia?

Atuar através do contorno sistemático de regras pode guiar ao sucesso. E quando assim ocorre, fácil é convencerem-se os incautos, de que aquele é o caminho certo para lá chegarem. Mas terão realmente noção do preço que poderão estar sentenciados a pagar?

Das várias conclusões de um estudo recentemente divulgado, organizado pela consultora EY (Ernst&Young), levada a cabo em 55 países, incluindo Portugal, houve uma que teve a capacidade, não de me abalar convicções, mas de me causar perplexidade: um em cada cinco inquiridos, com idade inferior a 35 anos (os apregoados jovens millenials), estão mais propensos a justificar atos de fraude e corrupção, para atingir objetivos, admitindo inclusivamente a utilização de subornos, sempre que se tal justifique. Aparentemente, o futuro das nossas empresas, mas também nosso setor público, em geral, está, digamos, para usar de parcimónia, de certo modo comprometido. É a possança da corrente maquiavélica, mais atual do que nunca, quinhentos anos depois.

Estarão as organizações preparadas para lidar com esta asserção? Mas afinal de que vale ser íntegro? Onde andará a falhar a necessária estrutura de valores familiares, educacionais, a nossa academia?

Não é fácil encontrar resposta para estas dúvidas metódicas. Mas uma certeza tenho: quem reconhece nas práticas fraudulentas, um meio legítimo para alcançar o sucesso, deixou de ser uma pessoa de confiança, e essa, é das qualidades mais importantes que alguém pode evidenciar. Lucrar é bom, mas temporário. Lucrar com uma rede de pessoas que confiam em nós, por sermos íntegros, vale para sempre. A palavra dessas pessoas disseminar-se-á como que por combustão.

Ser de confiança. Para um empreendedor, significa mais investidores dispostos a confiarem-lhe o seu dinheiro. Para um funcionário, significa o reconhecimento de um superior hierárquico e uma oportunidade de crescimento. Para uma empresa, significa a atração de mais clientes. Para um governo, significa a garantia aos cidadãos da mais eficiente alocação dos recursos públicos. Para cada um de nós, significa granjearmos dos outros, a disponibilidade sem receios, para nos ajudarem quando for preciso.

A confiança dos outros em nós não é algo que possa ser medido. Encerra em si impossibilidades infinitas e oportunidades ilimitadas. O erro pode ser perdoado. A falta de honestidade e integridade não. E porquê? Porque destrói toda a cadeia de valor que se possa ter construído. A dificuldade de não ser íntegro é que basta uma falha, para esboroar o castelo que se vinha erguendo.

Uma recordatória importante, para todos os que acreditam em atalhamentos para obter êxito: O sucesso vem e vai, a integridade é e fica. É fazer o que está certo, sob qualquer circunstância, mesmo quando nada nem ninguém nos observa, independentemente das consequências. É não deitar a perder num segundo, o que se construiu durante, muitas das vezes, anos.

É esta crónica propensa a lição de moral? Não. Está mais para puxão de orelhas.