Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

No mesmo período, a Irlanda, nosso parceiro de crise, passou dos 147% da média europeia para os 183%. Não só não perdeu posições como as ganhou. Que a crise não seja desculpa para as más políticas.

A economia moderna é uma verdadeira guerra entre os vários Estados – veja-se a disputa entre os Estados Unidos e a Europa/Alemanha sobre o Irão, ou a recente posição da Itália sobre as sanções à Rússia.É que os EUA lançam sistematicamente campanhas de fortes sanções económicas sobre países com os quais não têm relações económicas no duplo sentido de as vir a ter no futuro e de eliminar os concorrentes que já se encontram instalados nesses países. Parecendo um diferendo com o Irão ou com a Rússia é, na verdade, um ataque económico a terceiros, nestes casos a alguns países europeus como a Alemanha, França ou Itália.

Esta atitude americana percebe-se se tivermos em conta o declínio da sua economia, a afirmação económica do espaço euro dominado pela Alemanha e a ascensão chinesa. Recorde-se de que nos últimos 10 anos o PIB per capita dos EUA passou de 160% da média europeia para os 145% – uma perda muito acentuada num espaço temporal relativamente curto.

Na guerra económica, os vencedores são os países que preservam a sua independência estratégica e que conseguem um crescimento que os solidifique nas posições cimeiras.

Portugal, por seu lado, tem vindo a perder peso económico e a atrasar-se. De acordo com o Eurostat, em 2005 o PIB per capita português situava-se em 82% da média europeia e os mais recentes dados publicados em Abril deste ano e referentes a 2016 situavam o nosso país para o mesmo indicador nos 77%, isto é, uma forte queda e uma maior distância para a média europeia e uma ainda maior para os países mais desenvolvidos.

No mesmo período, a Irlanda, nosso parceiro de crise, passou dos 147% da média europeia para os 183%. Não só não perdeu posições como as ganhou. Que a crise não seja desculpa para as más políticas.

Portugal atrasa-se sob o olhar complacente das nossas elites para quem tudo está sempre bem. Evitando a crítica, escondendo a realidade não permitem a discussão séria de alternativas que nos possam tirar deste declínio permanente que enfrentamos desde a entrada de Portugal no Euro.

Veja-se o caso do salário mínimo nacional que se encontra substancialmente abaixo do valor que foi fixado pela primeira vez logo a seguir ao 25 de Abril de 1974. Para ser equivalente situar-se-ia sensivelmente nos 1.000 euros.

Esta estagnação salarial, o empobrecimento geral, a crescente precarização, a redução populacional, a emigração jovem, o aumento fictício das habilitações académicas (com cursos feitos por equivalências como se têm visto), tudo nos levaria a questionar se o caminho seguido tem sido o melhor e a imaginar caminhos alternativos que permitam ao nosso país afirmar-se na Europa e no mundo.

Mas ao invés avançamos cegamente "cantando e rindo" cada vez mais integrados no lote dos vencidos.