Aurora Teixeira, Visão online

Aparentemente, no seio da ‘classe’ política portuguesa a parte fundamental é escolher bem os ‘amigos’.
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“Vejo o futuro. Está ali, pousado na rua, um nadinha mais pálido do que o presente.”
(A Náusea, Jean-Paul Sartre, 1983)

Se do ponto de vista económico a situação portuguesa parece dar sinais de algum (moderado) otimismo, a moral da ‘classe’ política portuguesa avança destemidamente na sua trajetória de incessante declínio.

Desde licenciaturas obtidas (quiçá, forjadas) ao domingo, por equivalência de competências (na melhor das hipóteses) duvidosas, licenciaturas inexistentes, currículos falsos..., há de tudo, e para todos os gostos, na ‘classe’ política portuguesa.

Infelizmente, a fraude académica é apenas a ‘ponta do icerberg’ de uma ‘cultura’ profundamente corrupta e corrompida, onde abundam ad nauseam argumentações fúteis e descabidas para a completa ausência de carácter e de valores de uma não negligenciável parte dos políticos portugueses.

Quem se lembraria de ‘não alinhar em dinâmicas que apenas visam diminuir a representação democrática’ e considerar ‘legal’ reembolsar deputados por viagens que não pagaram? Eventualmente, os mesmos que consideram que nada há de ‘reprovável’ viver ‘à grande e à francesa’ com dinheiro emprestado de ‘amigos’.

Aparentemente, no seio da ‘classe’ política portuguesa a parte fundamental é escolher bem os ‘amigos’. Os tais, os verdadeiros ‘amigos do peito’, que generosa e altruisticamente ‘patrocinam’ (supostas) universidades de elite norte-americanas para nos dar um bom ‘tacho’, mesmo quando cometemos certas ‘diabruras’, como as de exibir um par de corninhos aos ‘menos amigos’. Ou aqueles que são os únicos a reconhecer as nossas ‘qualidades’ laborais (mas que entendem ser melhor privar o mercado de trabalho de tão notáveis ‘sumidades’) e que firmam acordos ‘galácticos’ (surpreendente, inconcretizáveis) para nos reformarmos aos 55 anos, com uma pensão vitalícia de 21.500 euros mensais (acrescido de um singelo pagamento à cabeça, de 7,5 milhões de euros).

Outro ‘gadget’ fundamental (do tipo que uma nossa artista plástica colocaria na mochila se tivesse de fugir da guerra) para um político português que se preze é ter um ou mais offshorzitos. Tais ‘gadgets’ são excelentes para, de forma ‘discreta’, receber ‘salários e outras compensações monetárias’ - ninguém precisa de saber o que recebemos, mesmo que estejamos a exercer, em exclusividade, funções públicas remuneradas!

Como afirmava Sartre, ‘estamos condenados à liberdade’! Assim, há que ser responsável por aquilo que se faz. Precisamos muito mais do que umas simples tomas de Motilium ou Peridal para cessar o enjoo. É imperativo que as nossas Instituições ajam, e de forma célere, para evitar uma septicemia.