Filipe Pontes, Jornal i online
O recente chumbo por parte do Tribunal Constitucional da Taxa Municipal de Proteção Civil do Município de Lisboa veio uma vez mais cimentar o ciclo vicioso da desconfiança generalizada da população relativamente ao Estado
O recente chumbo por parte do Tribunal Constitucional da Taxa Municipal de Proteção Civil do Município de Lisboa veio uma vez mais cimentar o ciclo vicioso da desconfiança generalizada da população relativamente ao Estado, neste caso particular perante o Município de Lisboa. Senão vejamos, quem não pagou a referida taxa viu confirmada a sua pretensão. Quem pagou e agora aguarda a devolução, viu agravada a desconfiança perante o maior Município do País, representante local do Estado. A situação torna-se ainda mais grave, pois se é verdade que existe a boa notícia da aplicação retroativa e expetativa da devolução de valores, os impactos são significativos e financeiramente sensíveis, a saber: receitas fiscais empoladas em 2 exercícios, bem como as dotações dos limites de capacidade de endividamentos, por um lado, e, por outro, menos 22 Milhões de Euros em receitas fiscais para este ano e a devolução de 58 Milhões de Euros indevidamente cobrados, num impacto total negativo de mais de 80 Milhões de Euros.
Trata-se de extrema importância ressalvar que não estão em causa os fins da referida taxa, pois eles são de extrema necessidade e justificáveis. A questão prende-se com a cobrança autónoma sob a forma de uma taxa obrigatória. De ressalvar também que não está em causa que a restituição retroativa imposta pelo Tribunal Constitucional seja uma correção importante e saudável de reconhecimento do erro e que tem obviamente implícita mensagem, não só para o Município de Lisboa, como também para todos os outros Municípios.
O exemplo apresentado é importante pois representa a quebra de confiança do cidadão perante o Estado, e pode justificar e vincar o círculo vicioso que se estabelece entre a atuação abusiva dos órgãos de soberania e o cidadão. Para que este círculo vicioso não se agrave temos agora de aguardar para que a recorrentemente apontada ineficiência da administração pública não seja uma vez mais confirmada no atraso e efetividade urgente da devolução das taxas indevidamente cobradas a 223.467 lesados do Município de Lisboa, no total de cerca de 58 Milhões de Euros.