Henrique Santos, Visão online

 “Tem a certeza que o seu contador de eletricidade conta bem?”..

...

Sei bem que o alcance daquilo que escrevo pode não corresponder ao por mim desejado. O problema para quem escreve é conseguir passar a mensagem ao seu destinatário tal e qual a pensou, e isso nem sempre é possível, ainda mais se recorrer a uma abordagem do tema de forma satírica e/ou cómica. Foi o que se passou numa recente crónica que escrevi que, ao contrário do que pensava (que ia defender a classe dos doutos advogados, me caíram em cima). Felizmente foram apenas aqueles que só sabem ler o texto da forma que acham ser a correta e a sua capacidade interpretativa não vai além daquela que querem percecionar, esquecendo-se do objetivo do autor (que nem questionaram), mas enfim.

 

Escrevi o último parágrafo porque não quero ferir mais suscetibilidades. Longe de mim. Desta vez a minha crónica vai ser muito linear, não vou referir nomes, e a margem de pensamento face à mesma será da inteira responsabilidade do estimado leitor.

***

- Tem a certeza que o seu contador de eletricidade conta/mede bem os consumos?

Quando eu vou ao supermercado e compro algo a peso, existe o recurso a uma balança (para confirmar o peso), que além da sua conformidade inicial para introdução no mercado, é sujeita a uma verificação periódica, por regra, anual. Tal garante a sua fiabilidade, quer para quem vende, quer para quem compra.

O que acontece com os contadores de eletricidade? De certeza que nunca avariam e contam sempre bem, digo eu, não sei.

Um amigo meu (empresário) viu o contador de eletricidade do seu estabelecimento ser alterado para um novo, para um bem mais bonito (ainda que seja muito subjetivo esse aspeto). Ele não pediu um contador novo, mas pronto, “eles” é que mandam.

Passado o primeiro mês ficou surpreendido com o elevado consumo, face ao que era habitual. Respirou fundo e pensou que algum funcionário se devia ter esquecido de desligar alguma máquina durante um período longo de tempo.

No segundo mês tudo continuou na mesma, uma conta exorbitante. Mas nesse mês ele tinha controlado todos os equipamentos.

Decidiu contactar a empresa de distribuição de energia elétrica em Portugal (não digo o nome porque não quero levar com um processo no lombo), a relatar o sucedido.

Estranhando o facto, mas não duvidando (talvez porque soubesse o motivo) a dita empresa substituiu o contador. Resultado: os consumos excessivos continuaram, apesar do próprio empresário ter implementado fortes medidas de racionalização energética.

Voltou a contactar a empresa e sugeriu-lhe que lhe montassem outro contador em paralelo, que fizesse a contagem em simultâneo durante algum tempo, juntamente com o contador já existente. Ficava assim com dois contadores ao mesmo tempo (para verificar se havida discrepâncias entre eles). Resposta da empresa: Impossível, não fazemos isso nem que pague duas taxas (será que tinham algum medo?, pergunto eu). No entanto, voltaram a substituir o contador.

O problema manteve-se e o empresário voltou a reportar. Resposta da empresa distribuidora de energia: o Contador que contava mal era o antigo e velhinho, e ainda por cima a fornecedora de energia elétrica é que estava a ser roubada ao longo dos anos (toma lá que é para aprenderes!, pensei eu).

Preciso de dizer mais alguma coisa?... Até preciso, a diferença de contagem era cerca de mais 2.500 euros/mês, numa fatura que chegou, com esta brincadeira a atingir os 6.000 euros/mês, nesta que é uma micro empresa.

Leiam o Decreto-Lei n.º 45/2017, de 27 de abril, e entendam-se (se conseguirem).

Espero bem que a solução geral não passe pela realização de uma Verificação Periódica anual ao contador de eletricidade à custa do consumidor. Bem,... é só lembrarem-se.

Querem saber como terminou este caso? Os consumos voltaram ao seu normal não tardou, mas para isso foi preciso cancelar débitos diretos, não pagar faturas e bater veemente o pé de muitas formas e feitios (sobretudo medições de consumo dos equipamentos). Entre isso e fechar a empresa, o empresário optou pelos postos de trabalho.

Como dizia o Diácono Remédios: “Não havia necessidade”.