José Leal, Jornal i online
Existem indivíduos, usurpadores, que vivem durante décadas em nome de terceiros, ora em razão de serem procurados pela justiça, ora por estratégia de enriquecimento ilegítimo.
Todavia, a fraude pode adquirir diferentes formas, e produzir diversos tipos de impacto na vida social, e individual. Aquela que no plano pessoal maior impacto produz na vida dos indivíduos materializa-se na usurpação da identidade. Tal intrusão na vida das pessoas inicia-se na maioria das vezes através de gestos simples da vida no quotidiano; a cedência de cópias de documentos de identificação em instituições insuspeitas, ou a sua entrega a supostos amigos, conhecidos, e necessitados, para os quais o valor da solidariedade constitui apenas uma oportunidade para em nome de terceiros obterem vantagens, colocando na maioria das vezes os reais titulares dos documentos em situação difícil, e de complexo esclarecimento.
O impacto do roubo da identidade sobre a vida da vítima é avassalador; da tomada de consciência de que alguém (quem?) se travestiu com a nossa identidade e se relacionou com outros fazendo-se passar por nós, construindo com esses uma identidade simbólica daquilo que não somos, orientada para a assunção de compromissos na esmagadora maioria das vezes nunca honrados, assume no quadro da vida do usurpado uma experiência de perplexidade, e de desorientação face à violação da identidade social, com repercussões devastadoras em toda a estrutura da vida pessoal e social.
Existem indivíduos, usurpadores, que vivem durante décadas em nome de terceiros, ora em razão de serem procurados pela justiça, ora por estratégia de enriquecimento ilegítimo.
A usurpação da identidade pessoal constitui a forma de fraude que maior devastação produz na vida pessoal das pessoas. Importa, pois, estarmos atentos aos locais, às circunstâncias, às instituições e às pessoas que nos solicitam dados pessoais, e em particular cópias dos nossos documentos de identificação e da nossa vida contributiva. Vidas usurpadas pela fraude através de um roubo subtil, mas devastador, de elementos que representam a nossa identidade social.