António João Maia, Jornal i,
1+1=1 é a fórmula que o então jovem Almada Negreiros propôs há quase um século – em abril de 1919 – em Histoire du Portugal par Coeur, publicado em Paris, para, através da certeza própria dos números e das fórmulas aritméticas, expressar a noção de existência de uma unidade coerente e una que contextualiza, enquadra e dá sentido à diversidade das partes que a compõe – a unidade na diversidade.
Através daquela simples fórmula, Almada procura expressar a noção de unidade, de união e de uma certa coerência, que deve pautar a lógica de funcionamento da família, no seio e na base da qual é possível identificar, desde logo como pilares fundamentais, a diversidade própria do género – do homem e da mulher –. No caso da família, Almada traduz essa unidade coerente pela noção de amor.
Porém o autor vai mais longe. No mesmo documento defende, seguindo a mesma lógica, a necessidade de existência de um sentido de unidade do todo nacional, de coesão social, que deve traduzir-se por um desígnio, uma vontade, uma determinação de todo o povo português em torno de um movimento, de um objectivo uno, em que todos de alguma forma se revejam, com o qual se identifiquem e que deve servir de orientação das partes. Almada Negreiros alicerça esta visão dinâmica e coerente da sociedade com o romantismo próprio da época, é certo, porém com fortes traços de apego ao seu Portugal, com um enorme orgulho por ser e por sentir ser português…
Em 1974, novamente em abril, a pretexto de libertar o país de um regime político repressivo, a Revolução da Liberdade e dos Cravos – que comemorou há pouco dias mais um aniversário – trouxe o povo português para a rua, curiosamente a reclamar também e uma vez mais a necessidade de união dos portugueses – do povo – em torno de um novo desígnio nacional com que todos se identificassem e que traduzia pelo célebre slogan o povo unido jamais será vencido…
39 anos depois dessa Revolução e porventura mais do que nunca, parece novamente chegado um tempo em que sentimos necessidade de voltar a unir-nos em busca de um novo desígnio, de um projecto, de uma ideia concreta em que acreditemos, na qual nos revejamos e sintamos um sinal de luz, uma esperança, uma porta de saída para esta espécie de túnel escuro em que sentimos estar mergulhados…
Estes apelos cíclicos à unidade evidenciam a consciência de que, como sabiamente diz o povo, só a união faz a força necessária e suficiente para vencermos as adversidades. E os tempos que vivemos são de enorme adversidade…
É imprescindível uma vez mais que, sem utopias nem discursos panfletários de ocasião, sempre causadores de ilusões e de falsas expectativas, sejamos capazes de nos unir todos (todos!) em torno de um projecto coerente e realista acerca do que verdadeiramente queremos e podemos ter para o nosso país, nos planos social, económico, financeiro e até político.
Tal como Almada Negreiros, importa que todos juntos, com o mesmo orgulho em sermos portugueses, sejamos novamente capazes de desenvolver a esperança em melhores dias, de criar expectativas realistas de futuro e sobretudo de sermos capazes de delinear um modelo de sociedade exequível para nós e para deixar de herança às gerações vindouras.