Henrique Santos, Visão online,
“É disso que precisamos muito, pessoas que desejem de facto aprender e não que achem que sabem tudo...”
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Eis que encontrei duas temáticas cuja curiosidade de todos é desafiada. Se eu disser que sei alguma coisa sobre “fraude”, absolutamente ninguém me pergunta como fazer para se proteger ou a combater. A primeira coisa que me dizem é “tens de me ensinar umas coisas”. Mas se eu falar qualquer coisa sobre “sexo”, todos querem contar as suas fantásticas e infalíveis performances.
Normalmente, quando me colocam as coisas nestes termos, nada melhor que começar a falar de sexo. Um tema diferente, sem dúvida fascinante, mas cujo resultado não anda longe. Vou ser enganado de certeza (na fraude também). Depois, se descubro que me estão a enganar, lá vêm eles com o triângulo do sexo: a Pressão para parecer o mais viril, a Oportunidade para brilhar entre os meros comuns e a Racionalização do ato cometido, dizendo que todos o fazem. É exatamente igual na fraude.
Se prepararmos uma sessão informativa sobre “Fraude”, todos querem ir porque se auto-intitulam ignorantes no tema. Se marcarmos uma outra sessão, mas agora sobre “Sexo”, todos querem ir porque dizem saber muito sobre a matéria (mas, no fundo, querem estar presentes para aprender).
E esse é o maior dos desejos que podemos ansiar quando se organiza uma sessão informativa: a vontade dos presentes em aprender. É disso que precisamos muito, pessoas que desejem de facto aprender e não que achem que sabem tudo, pessoas que gostem de ouvir, falar e trocar opiniões tendo como objetivo a melhor solução final.
Devemos tentar conhecer a fraude para melhor a compreendermos e combatermos e não para a cometermos. É um bocado como o polícia que conhece o modus operandi de um determinado tipo de crime, e usa esse conhecimento para replicar o crime e não para o combater.
Tenho medo, porque, infelizmente, o crime associado à fraude em Portugal ainda é visto com muito bons olhos, e é muito facilmente justificável por todos, quando não é, inclusive, incentivado.
A culpa é nossa, de todos nós, porque achamos que o crime associado à fraude, por um lado é algo que não nos afeta e, por outro, é algo que todos querem saber e não disseminar, porque nunca sabemos quando nos sai a sorte grande de a cometer. Sim, este tipo de pensamento é lamentável, mas é o que todos pensam, pois pensamos que quem é vítima de fraude é alguém desconhecido, e portanto não é ninguém.
Com que então a si o chapéu não lhe serve? Ok, vamos falar de sexo.