José Leal, Jornal i online

Quanto do desconhecido nos pode ser dado a conhecer através desses métodos que permitem estimar o que efetivamente nunca se chega a conhecer em absoluto.

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A lógica aparente das coisas é por vezes não terem lógica nenhuma, porque a sua compreensão impõe o prévio conhecimento de inúmeros fatores cuja existência, quantidade, comportamento e qualidade ignoramos. Questionamo-nos: quanto do desconhecido pode ser apreendido? dessa ténue cortina de poesia e de madrugada que se esboroa à mínima presença da ciência e dos métodos de conhecer; qual linha translúcida que funde o anil do céu no azul do mar a que chamamos horizonte e vida.

O ato de decidir é um fio de alteridade e assunção entre a verdade e a mentira, por entre a integridade e a fraude. As estruturas, as organizações, e os processos são uma consequência desse complexo que se funde na decisão de ser em razão da probidade ou do logro; do digladio entre a estrutura de valores que enforma as disposições do individuo e os contextos em que tem que exprimir a existência; por entre a incompletude, a incerteza, a fragilidade, o medo, a competência, a vaidade, a cobiça e a sobranceria; a condição humana. Sim, porque o medo que mata não é o que mesmo que salva.

Em suma, quanto do desconhecido nos é dado a conhecer, através desses métodos por estimação, a partir de fragmentos do que se oculta? Indícios mergulhados na bruma e na invisibilidade da verdade e da integridade, constituem-se no inicio para o processo de conhecer, ao que Nicola Malatesta referiu como sendo o argumento indireto que, através de uma operação lógica, permite deduzir o desconhecido a partir do conhecido.

Precisamos, pois de algoritmos que nos permitam aproximarmo-nos daquilo que através do comportamento humano se oculta, e que por entre a existência vai deixando um rasto sobre as condições das quais se alimenta. Saber conhecer a fraude, implica construir o método através do qual se descodifica o desconhecido, a partir de fragmentos decorrentes da sua manifestação, dispersos e difusos. Por isso importa pormos mãos à obra, numa marcha titubeada por Samuel Beckett, seguindo para a frente, pior avante, melhor pior, pior melhor, mas sempre em frente.