António João Maia, Visão online,

 

Quando os Valores são traduzidos nas relações sociais entre os indivíduos, nas condutas do dia-a-dia, falamos de Integridade

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Falar de Ética é falar de Valores. É sobretudo falar de Valores colectivos. De Valores sociais e culturais que foram construídos e sedimentados por sucessivas gerações. É falar dos Valores centrais que enquadram a vida colectiva dos indivíduos. É falar dos Valores que norteiam as relações entre as pessoas. É falar de Valores como a Integridade, a Honra, a Igualdade, o Respeito pelos outros, a Responsabilidade, a Liberdade, a Fraternidade, a Justiça, entre outros.

Mas os Valores, que somos facilmente capazes de identificar, como acabei de escrever alguns deles, só adquirem verdadeiro sentido e razão de ser na medida em que sejamos capazes de os colocar em prática. Na medida em que sejam vivenciados. Quando são concretizados no dia-a-dia das pessoas. Quando sentimos a sua presença nos nossos relacionamentos com os outros, quer porque os colocamos em prática, quer porque sentimos que os outros também o fazem.

Só nesse plano sentimos verdadeiramente a sua essência, a sua utilidade e a sua importância nevrálgica enquanto forças com potencial agregador da coesão social. De outro modo, facilmente se tornam vãs e meras referências de circunstância, que podem servir inclusivamente para suportar e ilustrar bonitos discursos panfletários, mas com pouca utilidade no plano concreto da vida das pessoas.

Quando os Valores são traduzidos nas relações sociais entre os indivíduos, nas condutas do dia-a-dia, falamos de Integridade. E na medida em que as pessoas sejam reciprocamente íntegras, confirmam a importância nos Valores, validando e reforçando a sua interiorização e a sua importância.

Ao contrário, quando as condutas se afastam dos Valores colocam-nos em crise. Deixa de haver Integridade. As pessoas, sobretudo as que ainda acreditam nos Valores e na sua validade, tornam-se descrentes. Por isso se reconhece que a falta de Integridade é indutora de desconfiança.

O grau de coesão de uma sociedade está muito relacionado com os índices de confiança e de agregação entre as pessoas. Por isso, já se vê, a redução da Integridade afasta a confiança e o afastamento da confiança conduz a uma certa desagregação social, à descrença das pessoas umas relativamente às outras. Alguns autores, como Susan Rose-Ackerman, têm referido que o incremento dos índices de corrupção numa sociedade oferece riscos de se avançar para uma certa desagregação social. Para a perda de expectativas sobre a acção dos outros, sobretudo quanto à Integridade. Tende a perder-se a noção de grupo e de pertença ao grupo e em sua substituição surgem sentimentos mais individualistas – o grupo dá lugar a um conjunto de indivíduos unicamente motivados pela satisfação dos seus interesses próprios. No limite, a perda de confiança por traduzir-se no aumento dos índices de tensão social.

É importante que as sociedades no seu todo adquiram cada vez mais consciência colectiva em torno destas questões e da sua importância central. É importante que se reforce a aposta em áreas formativas neste âmbito, como seja a educação para a cidadania.

A Ética tem de ser mais, muito mais, do que um discurso! Tem de ser consequente!