Manuel Castelo Branco, Visão online,

 

Um assassino económico é um profissional muito bem pago que defrauda países pelo mundo fora, extorquindo-lhes somas muito avultadas e canalizando dinheiro de organizações como o Banco Mundial ou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional para as grandes multinacionais e para algumas famílias ricas que controlam os recursos naturais do planeta.

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John Perkins é um economista norte-americano que alcançou notoriedade internacional com a publicação de um livro com o título “Confissões de um assassino económico”, em 2004. Em 2016 surgiu uma nova edição deste livro, atualizado e expandido, com o título “As novas confissões de um assassino económico” (The New Confessions of an Economic Hit Man, Berrett-Koehler, 2016). Ele foi economista chefe de uma grande empresa internacional de consultoria. Nessa capacidade, aconselhou organizações como o Banco Mundial e o FMI, mas também grandes empresas multinacionais norte-americanas.

O trabalho de Perkins, tal como ele o apresenta, seria convencer líderes de diversas nações por esse mundo fora que possuíssem recursos naturais cobiçados por aquelas multinacionais a endividar-se junto do Banco Mundial e outras organizações semelhantes para levar a cabo projetos de infraestrutura (aeroportos, autoestradas, portos, etc.) que os enriqueceriam a título pessoal e também a algumas grandes empresas multinacionais de engenharia e construção baseadas nos EUA. Todos os demais cidadãos desses países seriam severamente prejudicados devido ao desvio de fundos para o pagamento dos juros de tais empréstimos, os quais seriam desviados de serviços públicos como a educação ou a saúde.

Perkins foi aquilo que designa de “assassino económico”. No prefácio do livro em apreço, um assassino económico é apresentado como um profissional muito bem pago que defrauda países pelo mundo fora, extorquindo-lhes somas muito avultadas e canalizando dinheiro de organizações como o Banco Mundial ou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional para as grandes multinacionais e para algumas famílias ricas que controlam os recursos naturais do planeta.

Este livro pode ser lido de várias formas, desde a de mera ficção à de um autêntico retrato autobiográfico. Não obstante, ele é útil para estimular a reflexão sobre o fenómeno da corrupção pelo menos a dois níveis. Por um lado, pensando na realidade das nações a que o que se escreveu acima se refere, é verdade que uma das consequências mais prejudiciais da corrupção é a de dela frequentemente resultarem serviços públicos enfraquecidos, consequência que afeta em particular os mais desfavorecidos. De facto, é amplamente reconhecido que um dos principais efeitos negativos da corrupção é o de levar a que as escolhas respeitantes a investimentos públicos privilegiem áreas como construção de infraestruturas, mais lucrativas para alguns em virtude da maior possibilidade de recebimento de subornos. Disto saem prejudicados certos tipos de serviços que deveriam ser gratuitos ou realizados a preços acessíveis para os mais desfavorecidos, de que são principais exemplos a educação e a saúde. Por outro lado, a corrupção é normalmente pensada como um processo essencialmente impelido pela ganância de agentes do setor público corruptos. Mas a verdade é que o fenómeno da corrupção envolve pelo menos dois agentes. O livro em causa chama a atenção para o papel do setor empresarial na criação da corrupção, o qual não é um papel passivo. Sendo uma fonte de subornos, as empresas são uma parte fundamental do problema.