Manuel Carlos Nogueira, Visão online,

 

As empresas transnacionais não podem deixar de esquecer que a maximização do lucro, só é possível quando um crescente número de consumidores se fidelizar a essas empresas e aderir aos seus produtos

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O conceito de ética empresarial é consensual entre investigadores e empresários. É o estudo das situações, atividades e decisões das empresas, onde se colocam em causa questões morais (de escolha entre o que é considerado certo e errado), inerentes à conduta empresarial e dos seus membros. Por isso, são obrigações das empresas que se posicionam para além do texto da lei. A observância da lei deverá apenas constituir um ponto de partida, uma condição necessária, mas não suficiente para se poder considerar uma empresa como socialmente responsável. Estas definem um quadro de valores (quer seja de uma forma implícita ou explícita) pelos quais orienta a sua atuação.

Uma empresa que procura desenvolver as suas operações em valores éticos comuns a toda a organização, cria uma comunidade de cooperação que é fundamental aos processos de melhoria e inovação, gera melhor ambiente interno e reduz os potenciais triggers de problemas externos ao nível dos restantes stakeholders.

Com a globalização as empresas transnacionais procuram desenvolver as suas atividades em locais em que os custos são mais reduzidos, para poderem ser competitivas no mercado global. Mas esta atividade global coloca um conjunto adicional de desafios à conduta ética empresarial, obrigando-as a atuar de acordo com um quadro de valores de referência. Esse quadro ético muitas vezes pode ser diferente em relação ao país de origem da empresa e ao conjunto de países em que esta atua.

O que em termos empresariais pode ser considerado eticamente responsável numa geografia, noutra pode ser considerado condenável e vice-versa, devido muitas vezes a questões de diversidade cultural, religiosa, etc.

Felizmente que cada vez mais, verifica-se que em termos empresariais, existe uma maior exigência na capacidade para responder à dicotomia entre o reforço dos seus próprios valores e cultura, no contexto da globalização, e ao mesmo tempo respeitarem os valores dos outros que se localizam em diferentes geografias, já que como referimos os padrões éticos variam de localização para localização.

Muitas empresas transnacionais chegam ao ponto de ter preocupações a nível de transparência, disponibilizando online informações sobre as atividades da organização em todos os contextos em que atua, independentemente da sua obrigatoriedade legal.

Mas infelizmente nem sempre é assim. Já todos concluímos que a globalização é um processo em movimento e irreversível, mas os seus alicerces devem ser construídos num processo de padrões mínimos de consenso, responsabilidade e moralidade, e não apenas com preocupações de qualidade e produtividade que permitem reduzir custos.

As empresas transnacionais como um dos principais protagonistas da globalização, devem ter presentes claros princípios éticos, o que gerará uma confiança entre empresas e mercado, o que contribui para o seu lucro e para a sua sustentabilidade.

Não podemos deixar de referir que as empresas transnacionais não se sentem pertencentes a nenhum país, dado que de uma forma muito fácil transferem as suas unidades produtivas, seguindo apenas uma racionalidade puramente económica. Não sentem laços afetivos com o país, com a localidade ou com os trabalhadores. Por isso, apenas agem de acordo com o aumento dos lucros. Frequentemente as empresas transnacionais instalam-se num determinado país à custa da supressão de direitos dos seus cidadãos.

A ética empresarial e a necessária existência de um código ético no âmbito das empresas transnacionais, referindo valores que sejam pautados pelo respeito e dignidade de todos os envolvidos na atividade empresarial, constituem um importante caminho a ser trilhado e consolidado. A existência de um código ético a somar com a inevitável transparência das condutas das empresas globais, levará a que a ética empresarial seja internalizada à racionalidade económica, a fim de que estas duas faces da relação empresarial passem a ser aliadas na busca do lucro, deixando de ser antagônicas.

As empresas transnacionais não podem deixar de esquecer que a maximização do lucro, só é possível quando um crescente número de consumidores se fidelizar a essas empresas e aderir aos seus produtos. Num contexto global e cuja informação circula à velocidade luz, tudo se acaba por saber. Assim, são necessárias ações transparentes, negociações legítimas e confiança dos consumidores nas empresas, caso contrário estes deixam de comprar os produtos dessas empresas.

Se queremos viver num mundo mais justo e igualitário é inevitável que as empresas transnacionais apliquem os seus códigos e standards éticos a todos os locais onde operam, salvaguardando os costumes e tradições locais, mas com a preocupação de partilhar riqueza com as várias partes interessadas e desta forma, fazer chegar a todo o planeta a enorme riqueza gerada.

A ética empresarial sabe que os objetivos económicos devem ser maximizados, mas preocupa-se com os caminhos com que tais objetivos serão alcançados. Para o bem de todos e não de apenas alguns, esta deve ser a preocupação das empresas transnacionais e dos consumidores.