Orlando Mascarenhas, Visão online,

 

“A segurança é sempre vista como sendo demasiada, até ao dia em que não é suficiente”
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Com início neste mês de junho, o EURO 2016 em futebol\ centra todas as atenções em França. Sendo impossível de esquecer os recentes ataques terroristas ocorridos na Bélgica e em França, o governo francês promete implementar um forte dispositivo de mecanismos de segurança durante a realização desta competição desportiva a fim de “fazer todo o possível para evitar ataques terroristas”.

Pegando nas palavras de um ex-diretor do FBI (Federal Bureau of Investigation) – “A segurança é sempre vista como sendo demasiada, até ao dia em que não é suficiente”, pretendo com a crónica de hoje percorrer alguns pontos do que se tem efetuado no seio da União Europeia em matéria de segurança contra o terrorismo e realçar a ameaça terrorista contemporânea sobre aquilo que se designa por “Soft Targets” ou “alvos fáceis”.

São conhecidas as dificuldades e obstáculos existentes na União Europeia para se estabelecer uma rede de segurança unificada. Os 28 estados membros possuem diferentes prioridades, recursos e níveis de especialização no que concerne ao combate à criminalidade transnacional e ao terrorismo. Países como a França, Reino Unido e Alemanha, possuem uma significativa experiência no contra terrorismo e suficientes recursos humanos e materiais para manter as suas agências de  “informações” e antiterroristas. Esta é uma realidade que não se coloca para aqueles países com menos especialização e orçamentos reduzidos. Muito menos durante este longo período de crise económica, onde os governos têm tido necessidade de ponderar o financiamento do aparato securitário contra o controlo dos défices orçamentais.

Em simultâneo com estas questões orçamentais, os estados membros lidam com um ambiente onde as pessoas de deslocam livremente entre os países, enquanto as “informações” governamentais não o fazem, tal como o ministro do interior da Alemanha referiu após os ataques de novembro de 2015 em Paris em que admitiu que os governos dos estados membros não querem partilhar todas as suas “informações” com os seus pares e reforçando que a União Europeia e os diferentes governos de cada país possuem diferentes e separadas bases de dados de “informações” que não se encontram interligadas.

Enquanto se vivem estas questões quase infindáveis na União Europeia, agravadas pela evolução do desemprego, da crise dos refugiados e do terrorismo, rapidamente, a crise económica evoluiu para uma crise política, fragmentando cada vez mais a união da europa, colocando-se os estados membros numa posição de cada vez maior dificuldade de encontrar respostas coerentes, onde, as decisões nacionais vão substituindo a política da União Europeia. São exemplo disso mesmo as decisões de determinados estados membros de oposição à introdução de quotas para refugiados e de lutarem pela preservação dos controlos fronteiriços. O terrorismo e a imigração provocam o receio e medo pela segurança pessoal e pelos postos de trabalho. Os eleitores cada vez levantam mais as suas vozes, dando força a extremismos políticos.

Em 7 de janeiro de 2015 as instalações do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris foram invadidas por dois terroristas que, armados de metralhadoras, provocaram a morte de 11 pessoas e feriram mais cinco. Nesse mesmo dia, um outro terrorista com ligações aqueles que perpetraram o ataque à redação do jornal Charlie Hebdo, numa rua de Paris, matou a tiro um elemento policial e, no dia seguinte, invadiu um supermercado, vindo a fazer reféns e a matar 4 deles. Em 21 de agosto de 2015, um terrorista, apanhou um comboio de alta velocidade em Bruxelas com destino a Paris, armado com uma metralhadora , uma pistola e diversas facas. Já em território francês, preparava-se para disparar sobre os passageiros do comboio, quando foi impedido por dois deles. Resultaram alguns ferimentos em passageiros, mas evitou-se um massacre. Em 13 de novembro de 2015, em Paris, uma série de atentados terroristas de fuzilamento em massa, suicidas e explosões, provocou a morte a 137 pessoas, terroristas incluídos, sendo que, só num local, o interior de uma casa de espetáculos, foram mortas 89 pessoas. Ficaram feridas 350 pessoas, em que, 99 foram-no em estado grave. Em 22 de março de 2016, em Bruxelas, através de explosivos, dois ataques terroristas provocaram a morte de 14 pessoas na zona dos balcões de atendimento do aeroporto de Bruxelas e de 20 pessoas no interior de uma estação de metro. Em ambas as situações, os ataques ocorreram em horário de maior utilização destes sistemas de transporte.

Todos estes ataques terroristas possuem uma coisa em comum. Foram dirigidos contra aquilo que em termos de segurança vulgarmente se chama de “soft targets”, isto é, “alvos fáceis”, alvos que não possuem muita segurança e que, comparativamente, são muito mais fáceis de atacar do que aqueles que possuem uma forte presença securitária.

No início da era moderna do terrorismo, anos 60 do séc XX, poucos eram os alvos com uma forte presença securitária. Ao longo das últimas quatro décadas do século passado muitos mais alvos foram aumentado os seus mecanismos de segurança e proteção contra os ataques terroristas. Embaixadas, edifícios governamentais, companhias aéreas, são alguns desses exemplos. Face a estas dinâmicas, os grupos terroristas também adotam diversas formas de procederem aos seus ataques, sendo que, vivemos nos tempos de hoje uma mudança de paradigma. Os ataques terroristas passaram a centrar a sua atenção nos “soft targets”, incluindo-se nesta dimensão, os hotéis, os restaurantes, as estações de transportes públicos, os locais de culto religioso, os espaços comerciais, os estádios e pavilhões de ocorrência de eventos desportivos.

Enquanto existirem pessoas disponíveis para conduzirem estes ataques, independentemente das suas motivações, estas estarão sempre capazes de encontrar “soft targets” para atacar. É impossível proteger na totalidade todos os potenciais alvos e, dada essa impossibilidade de qualquer que seja a entidade governativa de prevenir todos os ataques, a população deve assumir alguma responsabilidade na sua própria segurança, o que quer dizer que, as ameaças contra os “soft targets” exigem a prática de medidas de segurança de senso comum, envolvendo também a prática de níveis apropriados de prevenção situacional no ambiente onde a pessoa se encontra e também o estabelecer planos de contingência apropriados quer para as famílias como para as empresas.

No desenrolar do EURO 2016, apesar de todos os esforços do estado francês, será impossível proteger na totalidade todos quanto se encontrem naquele país contra ataques terroristas. Limitar a acessibilidade aos “alvos fáceis” é também de responsabilidade dos cidadãos. Tal só se consegue com conhecimento e educação direcionada para estes fatores. Esta é uma das maiores falhas da política de segurança na União Europeia.