António João Maia, Visão online,
Os dados mais recentemente divulgados revelam uma vez mais e como já se desconfiava, que a economia mundial não é tão clara como se apregoa e defende, que a criminalidade organizada e a fraude geram dividendos económicos de grande dimensão
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Falar e reflectir sobre fraude e corrupção por estes dias acaba inevitavelmente por nos reconduzir à questão dos Panamá papers ou à dos recentes casos associados a instituições nacionais públicas altamente reputadas.
Aliás, se repararmos bem, este tipo de suspeições, quer tenham um carácter nacional ou internacional, têm sido cada vez mais frequentes nos últimos anos. Todavia, a frequência destes sinais não significa nem traduz necessariamente um incremento efectivo dos problemas de fraude, corrupção, branqueamento de capitais, evasão fiscal ou outra tipologia de delitos financeiros que em regra lhes estão associadas.
Na realidade este tipo de problemas sempre existiu e muito provavelmente continuará a existir enquanto o homem e as organizações humanas subsistirem. Simplesmente, o facto de os circuitos económico e financeiro terem passado a funcionar com base em estruturas tecnológicas e em redes informáticas, acaba por os deixar expostos à possibilidade de, ciclicamente, as informações e os documentos que os consubstanciam e dão forma serem publicamente divulgados, como agora sucedeu.
E, em si mesmo, do ponto de vista daqueles que acreditam e agem segundo princípios éticos e morais – que continuamos a creditar ser a esmagadora maioria dos cidadãos –, este efeito de risco de divulgação de informações financeiras não pode deixar de se considerar positivo, na medida em que vai possibilitando que as sociedades e os cidadãos vão conhecendo alguns dos contornos menos claros da dinâmica social e económica em que se encontram efectivamente inseridos.
Os dados mais recentemente divulgados revelam uma vez mais e como já se desconfiava, que a economia mundial não é tão clara como se apregoa e defende, que a criminalidade organizada e a fraude geram dividendos económicos de grande dimensão, a carecer de processos de branqueamento de capitais, e ainda que não existem instituições ou serviços, sejam eles públicos ou privados, cuja acção se faça sem riscos efectivos de alguns dos seus funcionários ou colaboradores praticarem actos de corrupção e de fraude
Deste ponto de vista e como temos tido oportunidade de referir em textos anteriores, a ocorrência de actos de fraude, de corrupção e de todo o tipo de delitos económicos e financeiros, são evidências da existência de indivíduos para quem a ética não será muito mais do que um discurso. A Ética é algo que lhes está efectivamente muito distante. Não é traduzida nas suas acções nem nas suas condutas É, no concreto, uma noção vã…
E é muitas vezes este o perfil dos sujeitos que encontramos quando estes aglomerados de informações se tornam públicos. Pessoas até então socialmente respeitadas e consideradas e que, de repente, deixam cair a máscara e mostram a sua verdadeira essência em termos de escrúpulos éticos e morais.
Por isso é necessário e importante que estas práticas sejam cada vez mais expostas e publicamente denunciadas. Que surjam outros Panamá papers, para que saibamos de modo cada vez mais claro quais os verdadeiros registos em que operamos. Para que a impunidade neste âmbito seja potencialmente reduzida.
Mas a divulgação destes elementos é também uma forma de continuarmos a acreditar que os valores da Ética são centrais na organização da vida colectiva dos sujeitos. Para continuarmos a acreditar que o sentido da própria vida colectiva continua a fazer sentido…
É que Ética e os valores que lhe estão associados não podem ser só discursos. Não podem ser só valores bons para os outros colocarem em prática.
Têm sobretudo de ser operacionalizados por todos. Têm de ser traduzidos nas acções de todos a todo o tempo.