Henrique Santos, Visão online,

 

“O conforto da ignorância e do desconhecimento é sem dúvida muito bom para quem tem uma preferência clara pelos regimes ditatoriais...”
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Não é raro ouvirmos alguns (muitos) saudosistas usarem a expressão “antigamente é que era”. Na verdade, confesso, ainda não compreendo se as pessoas têm saudades do passado, se de nada saberem do que se passava, ou da felicidade que sentiam por força da ignorância. Admito que quero acreditar nesta última hipótese.

É verdade que, de forma genérica, todos nós queríamos voltar a ser crianças, e regressar aos tempos de uma vida levada a brincar e livre de preocupações. Aqueles que apregoam desejar regressar ao passado, só se podem estar a referir a este estádio da vida. Digo eu!

Antigamente morria-se de “doença ruim, atualmente morre-se de “cancro”, Antigamente é que era bom, nem se ouvia falar muito em cancro...

No passado não existiam tantos homicídios passionais, agora, acontecem todos os dias. Antigamente é que era bom, os casamentos eram para a vida inteira, e eram raros os casos de homicídios entre casais.

No passado não havia fraude, agora não se pode ligar a televisão, ler um jornal, uma revista, e por aí fora, sem que a fraude esteja presente.

Afinal, parece que também eu quero regressar ao passado. Bem, no que diz respeito à minha fase de criança, não nego a vontade, mas será que estamos a raciocinar de forma inteligente quando desejamos voltar ao passado, simplesmente porque não ouvimos falar das coisas, desconhecemos, e por isso nos sentimos bem?

O conforto da ignorância e do desconhecimento é sem dúvida muito bom para quem tem uma preferência clara pelos regimes ditatoriais e bem o suporte dos seus supostos líderes.

Na fraude, também esta realidade se aplica como uma luva, e começam a escassear políticos capazes de se atualizarem à era da informação, do conhecimento e da tão apregoada transparência. No limite, a obrigação da transparência, levar-nos-ia ao fim da fraude.

Será a transparência a solução para todas as coisas?

No nosso dia-a-dia estamos a cometer constantes atos de fraude. É certo que muito diferenciados e sem impacte substancial (na sua maioria).

Tenho a plena convicção que, se fossemos totalmente transparentes nos nossos atos diários, quer pessoalmente, quer profissionalmente, não existiria fraude. Isso afigura-se-me como indubitável. Mas tal seria possível? Posso encarar isso como um dogma? Acho que não.

Como em quase tudo, o meio termo pode ser a solução, nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Assim, posso concluir que, quanto mais se investiga/combate a fraude, menos transparente ela se torna. Foi rápido de mais neste minha dedução? Conseguiu acompanhar-me?

Se não me conseguiu acompanhar é porque também é apologista da máxima “antigamente é que era bom”.

Mas se me acompanhou no raciocínio, então é mais grave, ainda nem do passado saiu.

Está Confuso? Não fique, isto é [a] fraude!