Elisabete Maciel, Visão online,
“Eu não aceito que a ética do mercado, que é profundamente malvada, perversa, a ética da venda, do lucro, seja a que satisfaz ao ser humano” (Paulo Freire)
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O Sr. Mateus possuía uma pequena casinha, rodeada por um exíguo terreno numa aldeia do interior onde gostava de se deslocar para se dedicar ao seu passatempo preferido: fazer um pouco de agricultura biológica. No entanto, devido à sua atividade profissional, precisava de ter acesso ocasional à Internet para poder despachar os mails de trabalho, os quais lhe iam surgindo durante a sua estadia. Embora possuísse um smartphone com acesso à Internet, este não o satisfazia pois, por vezes tinha de descarregar imagens que se tornavam ilegíveis num equipamento com um tamanho tão reduzido. O acesso tinha de ser feito recorrendo ao computador.
Como estava fora de questão fazer um contrato de rede fixa com uma operadora, o qual lhe ficaria muito dispendioso, começou a investigar a possibilidade de utilizar a rede móvel. Embora a aldeia não estivesse nos confins do mundo constatou que, das operadores que disponibilizavam tal serviço, só uma lhe possibilitava estabelecer uma ligação com alguma qualidade. O problema da concorrência estava resolvido.
Ao analisar as alternativas apresentadas pela operadora e, tendo em conta que era um utilizador ocasional, optou pela solução que não lhe exigia um período de fidelização, devendo efetuar carregamentos, unicamente, quando necessitasse. Seria taxado de acordo com o período de tempo em que estivesse ligado e, pensou ele, tinha encontrado a solução mais económica.
Fez um primeiro carregamento de 5 €, o qual lhe permitiria cinco horas de navegação. Como só ia permanecer na aldeia três dias e não devia gastar mais do que duas horas e meia para despachar os seus mails, achou que o carregamento efetuado ainda seria suficiente para a próxima deslocação à aldeia. Evidentemente, iria ser muito comedido e, após efetuar a ligação, consultava o seu mail e desligava logo de seguida. Não gastaria mais de três minutos se a caixa de correio estivesse vazia. Este processo era repetido cerca de seis vezes durante um dia. Qual não é o seu espanto quando no último dia não conseguiu estabelecer a ligação. Como era possível acontecer tal coisa se não tinha estado ligado mais do que duas horas no total? Além disso, após cada ligação, tinha tido o cuidado de desligar imediatamente. Seria a pen que estava avariada? Como se encontrava de regresso, decidiu averiguar posteriormente.
No dia seguinte contacta a operadora e expõe a situação. Qual não é o seu espanto quando lhe comunicam que tinha esgotado o seu plafond. Referiu que não tinha estado ligado mais do que duas horas e tinha feito um carregamento que lhe permitia cinco horas de navegação.
Nessa altura, foi informado que a unidade de taxação era de 20 m. Como tal, se tivesse estado ligado unicamente um minuto, eram-lhe cobrados, inevitavelmente, vinte. E nada havia a fazer. Sendo assim, foi aconselhado a cronometrar o tempo de ligação de forma a manter a ligação durante x minutos, valor esse múltiplo de vinte. Não, melhor ainda, foi aconselhado a desligar-se aos dezoito ou dezanove minutos, não fosse passar para a unidade de taxação seguinte…
Referiu que não lhe tinham dado essa informação aquando da compra do equipamento. Contudo, reconheceu que a não leitura das letras reduzidas do contrato, não o isentava de culpas. No entanto, considerou de uma gravidade extrema que, com o avanço da tecnologia em que é possível taxar chamadas telefónicas ao segundo, utilizassem uma unidade de taxação para este serviço de 20 minutos – o que equivale a 1200 segundos –. Não dava para acreditar. Afinal, o barato sai caro….