António João Maia, OBEGEF

O senhor gestor do velho banco falido mais as suas explicações foram calados por uma mordaça esférica

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O episódio que trago aqui hoje seria uma boa piada, digna até de uma peça humorística, se não fosse verdadeiro.

Aconteceu há poucos dias, perante os olhares de muitos portugueses, alguns dos quais certamente a viver na primeira pessoa a experiência (e os efeitos no estado de alma) de quem sente ter sido e continuar a ser vítima de fraude. E provavelmente a maioria deles nem se terá apercebido do caricato do sucedido.

Mas vejamos a cena:

No passado dia 19 de março aconteceu, na Assembleia da República, a segunda audição parlamentar do principal gestor de um recentemente falido, e por isso agora velho banco, que deixou muitos portugueses defraudados quando souberam, por sinais diversos, que com a anunciada falência se enevoaram também as suas poupanças de uma vida de trabalho.

A história desta falência e do processo que conduziu à criação de uma nova versão do banco para prosseguir com a ação do denominado lado recuperável, sobrante da anterior formulação, vai sendo conhecida, dada a mediatização que lhe tem sido conferida.

Era pois natural que, em todo este contexto, nesse dia as Televisões, particularmente os canais de informação, estivessem lá, a transmitir em direto as explicações dos últimos passos da gestão do falido velho banco.

E, correspondentemente, era também natural que muitos dos lesados estivessem “colados”, de olhos e ouvidos, aos ecrãs, a acompanhar a sequência de perguntas e respostas para procurar encontrar mais alguns pormenores do que sucedeu e sobretudo por que (des)caminhos foi conduzido o seu dinheiro.

Porém, repentinamente, a meio da tarde, a emissão foi cortada. Era necessário dar a palavra aos senhores do reino bola para apresentarem a listagem dos jogadores escolhidos para representar a seleção nacional num jogo com a equipa da Sérvia.

O senhor gestor do velho banco falido mais as suas explicações foram calados por uma mordaça esférica. As suas explicações passaram para uma dimensão reduzida. Deixaram de ser muito importantes. Foram substituídas pelas questões da bola. Por isso a audiência permaneceu no cadeirão e no sofá. Mas agora, numa dimensão épica, para perceber quais seriam os heróis a quem estava a ser confiada a honrosa missão de defender as cores nacionais nessas lutas redondas.

E foi justamente nesse momento, nessa mudança de janela que – quase ninguém terá reparado – se mostrava que (vá-se lá saber com que dinheiro…) ali à frente dos olhos de quem queria (e conseguia) ver, se anunciava, num cartaz com uma cor refrescante, que um dos patrocinadores da “nossa seleção” é, imagine-se, o banco novo.