Orlando Mascarenhas, Visão on line,

provocando o decréscimo crescente da confiança no sistema democrático.

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Durante muito tempo, a criminalidade económico-financeira foi negligenciada pela sociedade.

Contudo, diversas circunstâncias, concorreram para que a sociedade passasse a atribuir uma maior relevância a este tipo de “assuntos”.

Uma sucessão de crises económicas e financeiras, associadas a vários casos de corrupção e fraude que se globalizaram e afetaram (continuam a afetar) a vida das pessoas, provocando uma maior restrição de disponibilidade de recursos públicos, a que se juntou uma desregulação de diversas atividades, multiplicaram as oportunidades para o ato ilícito, potenciando escândalos e provocando o decréscimo crescente da confiança no sistema democrático.

A crise financeira iniciada em 2008 alertou a consciência mundial contra ente tipo de comportamentos criminais, pois as vítimas tomaram consciência de efetivamente assumirem esse estatuto, ou seja, fez perceber aos cidadãos que todos são vítimas.

Mas não são estas situações que preocupam as pessoas. Aquilo que as atemoriza e provoca sentimentos de insegurança, são os atos que só em muitas particulares circunstâncias e que a grande maioria das pessoas a estes nunca estará exposta. É a violência. Diariamente são exibidos atos de violência extrema. Através dos diversos meios de comunicação social, as pessoas ficam chocadas, por vezes preocupadas, umas outras tantas vezes com medo. O terrorismo, e todas as diversas formas de violência gratuita praticada pelo homem sobre o seu semelhante, posiciona o cidadão perante esses factos em dois níveis. Mesmo não sendo vítimas desses horríveis atos, as pessoas passam a agir com medo e sentindo-se inseguras.

Vejamos agora o modo como as pessoas se encontram perante a criminalidade económico-financeira e suas consequências. Se pensarmos um pouco nos efeitos em que, em termos de perda de vidas humanas e de outro tipo de danos, muitos deles bastante gravosos, que advém da corrupção ligada à contrafação e adulteração de medicamentos, de produtos alimentares e de produtos da indústria transformadora; dos efeitos da contaminação ambiental potenciada pelas fraudes no cumprimento das normas reguladoras; as depressões e suicídios despoletados pelo desemprego cuja origem se pode encontrar nos atos de gestão danosa e corrupção; no mau fornecimento de serviços por parte do Estado, que vai desde a saúde à ação social, à educação, à justiça e mesmo à segurança física das pessoas, provocado pela diminuição da receita do Estado, fruto da fraude e da evasão fiscal, podemos tomar consciência do impacto nefasto que a prática dos comportamentos criminais ligados à corrupção, à fraude (nas suas variadas vertentes), ao branqueamento de capitais e outros tipos de crimes da criminalidade económico-financeira, têm na vida em sociedade.

Com frequência, neste tipo de comportamentos criminais, não é possível identificar as vítimas, ou estas não possuem consciência de efetivamente o serem. O que é certo, é que perante todo este tipo de comportamentos, todos são vítimas. Pode até ser com danos reduzidos para cada um, mas quando somados, possuem um impacto danosos extremamente elevado, podendo considerar-se a atividade criminosa que mais danos provoca.

HSBC, Monte Branco, Operação Furacão, Operação Marquês, BPN, BES, e tantas outras designações que de alguma forma nos transportam para este tipo de criminalidade, são alguns dos exemplos daquilo que provoca danos. Os cidadãos não podem ser meros espectadores de disputas político-partidárias e de interesses corporativistas. São parte interessada, pois são vítimas e sofrem os danos. Torna-se cada vez mais necessária uma atitude ativa perante este flagelo que a todos afeta.

Todos devem prevenir e combater estes comportamentos criminais, para o bem da sociedade atual e para os daqueles que nos seguirão.