Paulo Vasconcelos, Visão on line,

Temos de crescer como povo, temos de responsabilizar quem dirige

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1. Então a REN e a GALP não querem pagar parte dos seus impostos! As demais empresas e os cidadãos também não querem. Há muitos que agora não pagam impostos, porque com a crise criada por outros, deixaram de auferir salário. Para o cidadão ativo nem se coloca a possibilidade de não pagar; primeiro paga e só depois é que pode reclamar. Mas pelos vistos não é assim para alguns poucos…. Um empreendedor entra num mercado competitivo e coloca em risco o que tem e aquilo que consegue emprestado. Mas certas empresas até têm rentabilidade garantida por lei! Será que alguém algum dia vai ser responsabilizado? No nosso canto, é a AT, o estado, quem cobra as dívida das SCUT, de empresas privadas.

2. Os vistos Gold. Muito se tem falado destes vistos. Parece agora que pode também haver negociata associada. O ministro que tutela os serviços demitiu-se invocando responsabilidade política. Agiu corretamente. Já há muito que não se via tal atitude, e não foi certamente por falta de ocasião. Contam-se pelos dedos da mão os ministros que o fizeram. Ninguém é responsável nunca. Se pelo menos os representantes máximos assumissem atitudes demissionárias, talvez que isso permitisse a construção de um Portugal melhor, mais auto regulado. Somos um cantinho singular que vende barato autorização de residência.

3. O portal Citius deu prego! Pode acontecer, mas com tanto estrondo e durante tanto tempo não é nada normal. O portal da AT alguma vez deixou de funcionar durante semanas? O serviço de homebankimg do seu banco alguma vez o deixou sem acesso mais do que algumas horas? Portais de redes sociais ou de serviço de email alguma vez paralisaram mais do que uns minutos? Nunca. Mas o Citius sim. Aqui há uns anos atrás, a colocação de estudantes no ensino superior também deu grande bronca. Uma grande empresa estaria por detrás do software necessário aos procedimentos de seriação e … a coisa falhou e sem resolução rápida à vista. Num fim-de-semana um “carola” implementou uma solução que resolvia, quase a 100%, a colocação dos estudantes. Mas, então quem é o responsável? Portugal é realmente um cantinho especial …

4. A crise em alguns dos países europeus deveu-se essencialmente a problemas na banca. A crise em Portugal não, muitos referiram-no categoricamente. O BPN e o BPP não são problemas da banca mas casos de polícia, bradaram uns e continuam a praguejar outros. Mas eis senão quando, e após reforço dos mecanismos de supervisão, o BES surge nu e em esplendor. É feito implodir. Pior que as torres do bairro do Aleixo, em que as pessoas foram sendo preparadas e realojadas, neste caso a decisão de dividir o banco em 2 foi comunicada num domingo pelos meios de comunicação social, sem que as partes interessadas tenham sido avisadas. Não, alguns foram-no certamente, até porque a queda precipitada da cotação do banco na semana anterior disso é prova. Tal constatação foi aliás claramente expressa pelo presidente da CMVM. Afinal não é Rio Forte, é charco seco. Para quando os responsáveis? E a responsabilidade política, não há ninguém que a invoque para manter a dignidade? Cá no nosso cantinho, jardim à beira mar plantado, não há erva daninha, só malmequeres …

5. Ao comprar um bilhete de metro numa cidade do centro da europa presenciei a um episódio revelador do que é ser português. Sem perceber a língua e perante a possibilidade de, aparentemente ser possível adquirir bilhete com redução de 50%, um estudante questionou outro local sobre o que seria aquela espécie de promoção; ao que o local respondeu, que era bilhete de criança. De imediato respondeu o Tuga: “vou comprar, se aparecer o pica digo-lhe que não entendo nada e pronto”. O local não percebeu a argumentação do Tuga, e insistiu: “Não, é só para crianças”. O Tuga de imediato sussurrou ao amigo que o acompanhava: “é muito nabo este local…”. Somos os maiores do nosso canto e arredores. Esperteza saloia e consentimento da fraude é o que é.

6. Dar fatura é obrigatório. Há um “pópó” à espera de ser entregue todos os meses. Mas em muitos locais continua a ser o cliente quem pede a fatura, sendo obrigação do vendedor emiti-la em toda a transação. Noutros, gasolineiras em particular, informam expressamente o cliente que, caso este queira fatura, a deve solicitar antes de efetuar o pagamento … Isto é Portugal no seu melhor.

7. Será falta de educação e cultura? Pode até ser. Ainda recentemente e durante muito tempo houve alunos sem professor … ou melhor, tinham professor, mas como havia sido mal colocado por erro nas fórmulas, foi desseleccionado e selecionado outro que demorou a chegar. Numa sociedade moderna, com gente inteligente, não teria sido preferível manter os mal colocados indemnizando os que deveriam ter sido alocados? O fundamental é ou não oferecer ensino e educar os nossos filhos? Parece que não. Situações destas não ocorrem no ensino privado, que também é subsidiado pelo estado. Será que o privado gera melhor que o público? Pode até ser, mas que há decisões que têm vindo a estragar e a desprestigiar objetivamente o ensino público, disso não tenhamos a menos dúvida. Mas de novo, quem é responsável por tanto desnorte e degradação do ensino público? Alguém alguma vez assumiu responsabilidade política? Ninguém. Cá no retângulo a punição termina quando atinge uma certa elite nacional.

8. Mas ao mesmo tempo cá no canto muitos trabalham duro e alguns até se destacam projetando Portugal e o que de bom aqui se faz. O nosso cantinho acaba de ser eleito para melhor destino de golfe do mundo. Temos também 3 dos 4 melhores vinhos do mundo, segundo a mais prestigiada revista de vinhos. Um cantor acaba de ser agraciado com o Grammy Latino de Carreira; temos vários campeões do mundo em modalidades desportivas e até o atual melhor jogador de futebol.

Portanto, temos de crescer como povo, temos de responsabilizar quem dirige e é gratificado para bem dirigir. São estas coisas cá do nosso canto que estão a destruir aos poucos uma das mais antigas nações do mundo.