Alda Correia, Visão on line,
Podemos ler estudos sobre o perfil do defraudador, mas nada é tão real como ouvir na primeira pessoa, o que leva alguém a cometer fraude.
O relato de Elliot Castro (ex-defraudador e atual consultor) sobre a sua experiência de cinco anos vividos a cometer fraude com cartões de crédito e a usufruir da mesma, é perturbador. Damos por nós a pensar até que ponto não teremos todos um pouco de burlão e de vítima.
Tal como muitos outros, este jovem sentiu que conquistaria amigos se tivesse bens materiais e com a confiança de quem acredita tudo conseguir, começou a recolher dados de cartões de crédito e dos seus titulares. Segundo ele, é incrível como as pessoas facilmente acedem a dar os seus dados a alguém que não conhecem, mas que julgam poder confiar.
Em conversa de amigos, alguém - cuja opinião muito respeito- respondeu à minha provocação da seguinte forma: “o burlado não quer ser enganado. O burlado é enganado porque acredita”.
Será que em tempos de crise não é mesmo isso que todos procuramos? Acreditar que descobrimos a forma rápida de sair deste buraco financeiro e social em que estamos metidos? A fraude aumenta em tempos de crise por existirem mais pessoas predispostas a tentar a sua sorte como defraudadores, ou por existirem mais potenciais vitimas?
Naturalmente que nem todos os tipos de fraude se encaixam nesta leitura. Mas se pensarmos nas fraudes de investimentos financeiros, quando oferecem um retorno financeiro escandalosamente alto, o que leva as vítimas a deixarem-se envolver por estes esquemas (em alguns casos, mais do que uma vez)?
De facto, algumas fraudes são arquitetadas para serem juridicamente ambíguas. No caso das fraudes de investimento, são ambíguas no sentido de que algumas vítimas acham ter sido apenas um mau investimento e não um esquema fraudulento.
Na internet abundam exemplos de defraudadores, alguns deles portugueses, mas invariavelmente, no momento de revolta, as suas vítimas reclamam a ação da Justiça para esquema “tão descarado”.
Elliot Castro, numa entrevista ao Jornal “The Sun” publicada a 9 de Outubro de 2009, refere que o problema da fraude não é só tornar-se a fonte de rendimento, mas também um estilo de vida.
Um estilo de vida que atrai as suas vítimas e, em simultâneo, cria uma sensação de confiança que impede desconfiar do lucro tão fácil.
Esta é por isso uma das formas mais assustadoras de fraude e, em simultâneo, mais difícil de distinguir onde termina a ação da vítima e começa a ação do burlão.
George Orwell escreveu: “Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante." Em tempos de crise, essa luta parece mais difícil de travar.