Elisabete Maciel, Visão on line,

Se trancamos as nossas portas, porque não proceder da mesma forma em relação aos dispositivos electrónicos móveis que utilizamos no nosso dia a dia?
No mundo empresarial contemporâneo as empresas manipulam e armazenam uma grande quantidade de informação vital para a sua sobrevivência. Tendo em conta o desenvolvimento vertiginoso das tecnologias de informação, associado à obrigatoriedade da partilha de informação com todos os envolvidos no negócio, as empresas, nos dias que correm, facilitam cada vez mais o acesso à sua informação através do mais variado tipo de dispositivo: portáteis, tablets, smartphones, etc. Será que as empresas têm a noção dos riscos em que incorrem ao abrirem a sua rede a todo o tipo de dispositivos? Estarão elas preparadas para garantir a segurança da sua informação?
Alguém afirmava que a única rede segura é aquela que não tem pessoas a ela ligadas…
Consideremos uma situação que poderia perfeitamente ocorrer na realidade. Uma empresa equipou os seus funcionários com smartphones tendo em vista permitir-lhes o acesso, em qualquer momento e em qualquer lugar, à informação empresarial. Como tal, estes dispositivos armazenam todos os contactos úteis, permitindo o acesso aos mails relacionados com a sua actividade laboral. Um funcionário recebe uma SMS, que em tudo parece vir da sua empresa, solicitando que faça o download de uma nova aplicação a instalar no seu smartphone. Ao receber essa mensagem, que não duvida seja verdadeira, procede à sua instalação. Na realidade, trata-se de uma mensagem fraudulenta que pretende instalar um software malicioso (malware). Ademais, o dispositivo telefónico não apresenta quaisquer sinais de ter ficado infectado. No entanto, o autor do malware passou a ter controlo remoto sobre o dispositivo, o que lhe permite, por exemplo, interceptar todas as chamadas e mensagens, aceder à lista de contactos ou até activar à distância o gravador e passar a ter acesso às conversas que decorram, por exemplo, numa reunião de trabalho.
De acordo com dados publicados pelo Banco Mundial (Information and Communications for Development - 2012) de 2005 a 2011 o número de telefones móveis vendidos em todo o mundo passou de 800 para 1800 milhões. Nesse mesmo período, a venda de smartphones praticamente decuplicou (de 50 para 470 milhões). Embora não haja informação acessível sobre o número de smartphones vendidos em Portugal, tudo leva a crer que a situação será, no mínimo, idêntica. De acordo com o mesmo relatório e para 2011, o número de subscrições de telefones móveis por 100 habitantes em Portugal(158) é significativamente superior ao verificado para o grupo de países em que está incluído (elevado rendimento). Neste grupo, o valor é de 118 subscrições por cada 100 habitantes.
O aumento exponencial de smartphones no mercado e a política de redução de custos muitas vezes adoptada pelas empresas, materializada no consentimento da utilização dos dispositivos que são pertença dos funcionários (BYOD – Bring your Own Device) para uso laboral, mantém a premência da discussão em torno das questões relacionadas com a segurança da informação. Por outro lado, a preocupação que ao longo dos últimos anos existiu em proteger minimamente os computadores utilizados no local de trabalho perante possíveis ataques, não se tem estendido aos smartphones. No entanto, existem várias soluções no mercado para os protegerem. Verifica-se, todavia, que as pessoas ou não as conhecem ou acham que a sua utilização degrada o desempenho do seu smartphone e, consequentemente, ignoram-nas.
No mínimo, exigia-se que “antes da casa roubada pusessem trancas à porta”… Sendo assim, era expectável que impedissem o acesso à informação armazenada no smartphone utilizando uma password. Este procedimento básico permitia, pelo menos, minimizar os estragos que poderiam resultar de um possível roubo. Em relação às restantes ameaças, o melhor conselho é pensar em instalar uma aplicação que garanta a segurança da informação. De notar que estas aplicações permitem, entre outras acções, bloquear remotamente o dispositivo através dum simples SMS e, numa situação extrema apagar toda a informação armazenada no smartphone. Para tal, basta utilizar um computador com acesso à Internet.
Não esquecer que, regra geral, o dono de um smartphone é o principal responsável por o infectar, quer seja através da instalação de uma aplicação maliciosa, quer seja pela simples operação de efectuar o download de um jogo a partir de um site não fidedigno.
É chegado o momento das empresas olharem para a realidade e mudarem de atitude. A maior parte dos incidentes de segurança da informação têm origem internamente sendo que, muitos deles seriam perfeitamente evitáveis.