Henrique Santos, Visão on line,
Se por vezes falar de sexo no seio da Igreja Católica se cinge à função de reprodução, e quanto muito dos afetos, falar de fraude é mesmo pecaminoso.
Podia dizer que o sexo está para a Igreja, como a fraude está para Lei. Andam ali à volta mas não resolvem nada! Parece que é algo do outro mundo, que ninguém faz, que ninguém sabe como é, mas todos dominam.
A relativa ousadia do parágrafo anterior mais não é que um abanar de dogmas e de paradigmas.
Conhecer e falar sobre a fraude é sobretudo consciencializar, demonstrar não como se faz, mas como se pode e deve evitar. E nisso nós somos muito pouco competentes.
No sexo, por variadíssimas razões, ainda se minoram os seus “efeitos adversos” com o uso de métodos contracetivos, da qual se destaca o preservativo (não na ótica da Igreja Católica, saliente-se). Mas na fraude ainda andamos na busca do Kamasutra, e os preservativos que vão surgindo, diga-se de passagem, já estão bem rotos (desculpem a franqueza).
Se a Lei disser: “é proibido ter mais filhos” alguém deixa de fazer sexo? É o que acontece com a Fraude. A Lei diz: “é proibido cometer fraude”, alguém liga a isso?
Não tenho a mínima dúvida que o combate e a menorização da prática da fraude derivarão de uma maior consciencialização ética de todos. É um percurso lento e doloroso, que vai fazendo as suas vítimas, mas é indubitável que é o melhor caminho, em parceira com outras atitudes. Penalizar sem a consciência de que se fez mal, ou pior, levar a pensar a quem foi condenado que ele foi o único num mundo em que todos o fazem e só o próprio foi penalizado, só o revoltará mais e levará a perpetrar outros atos de igual índole no futuro.
Aqui o papel da Igreja é de inegável valor, mas não pode simplesmente chegar, e, do altar dizer (como aconteceu há anos): “atenção, fugir aos impostos é pecado”. Provavelmente ainda haveria quem mudasse de credo, ou simplesmente assumisse da religião aquilo com que apenas mais se identificasse, o resto seriam pormenores que alguém ali os colocou.
A Igreja Católica tem um novo problema em mãos. A questão sexual já não deve ser o tabu no tratamento de assuntos diretos com os seus fiéis. Esse é um problema que, provavelmente, nunca o chegou a ser. Agora a fraude, essa sim, cuidado, ela de facto reproduz-se muito vertiginosamente e a dificuldade que impera é o facto dos métodos contracetivos serem aqui extremamente falíveis e escassos, numa realidade em que as orgias são a palavra de ordem.
A consciencialização que a fraude a todos afeta é um bom princípio para que comecemos a saber contribuir com a nossa parte.
Nós só nos indignamos quando nos metem as mãos nos bolsos, e não precisamos de ser roubados na rua, por um ladrão de meia tigela. Basta abrirmos a caixa do correio e pegar na carta das finanças com a nota de liquidação do IRS. Das duas uma, ou ficamos indignados porque fomos vítima de fraude (se ainda não tínhamos feito os cálculos aquando da entrega da mesma), ou, no mínimo, admitimos que somos um defraudadores.
São necessários mais comentários, quando de seguida vimos o que se passa com o nosso estado social? Bem me parecia.
Faça o teste da visualização da nota de liquidação do IRS. Talvez conclua que nem a penitência de rezar meia dúzia de avé-marias lhe salve a alma, ou então descobriu que tem muito haver em matéria de reconciliação com Deus e com os seus filhos.
Lembro que as indulgências não estão lá para quem as quiser. Não não.., estão lá para quem as puder comprar!
Depois disto ainda vou ser excomungado…