Alda Correia, Visão on line,

Num mundo cada vez mais de exposição, nunca se pensou tanto em proteção dos dados pessoais. Até onde estou disposta a permitir que acedam aos meus dados pessoais? Em conversa de amigos sobre o tema, alguém me questionava nos seguintes termos: “Por exemplo, eu não fumo quando faço o seguro; depois tenho de dizer que numa festa fumei um charuto? Isto não é abusivo?” ao que retornei “mas achas justo que o dinheiro que pagas de prémio seja usado para pagar o carro que o teu vizinho diz que foi roubado mas na realidade ele vendeu para peças?” a resposta foi óbvia “Claro que não! Isso é uma fraude”.
Todos defendemos que devem ser estabelecidos limites à violação da vida privada através de agressivas campanhas de marketing, e que todos aqueles que se apropriam da nossa identidade para obter benefícios ilegítimos devem ser punidos….
Porém, continuamos a apreciar entrar em determinados locais e sermos servidos em função daquilo que gostamos, de que nos “adivinhem os gostos” através do cartão de cliente, que nos seja dada prioridade pelo histórico como cliente daquele local, ou que nos permita acumular descontos. Desde a pintura do cabelo até ao produto que eu tanto gosto e consumo, não quero que falhe quando necessitar… e gosto muito que a empresa aceite as minhas sugestões de melhoria do serviço, pois eu sou a consumidora, portanto é para mim que produzem! E não faz sentido eu pagar por um serviço que não uso só porque faz parte do pacote. Por isso, gosto de encontrar produtos à minha medida.
E apesar de ter consciência que este mundo não é seguro (muito menos quando eu coloco a informação online), continuo a informar o mundo onde me encontro neste momento a fazer um comentário online (até permito que o mapa assinale correctamente para o caso de alguém confundir localidades). Para quem está a planear um assalto à minha casa é só fazer contas: moro aqui, estou a assistir ao espetáculo ali, pelo que estarei ausente de casa durante um período de tempo que permite o ladrão recolher o novo equipamento que adquiri e publicitei, e ainda acalmar as vizinhas que possam olhar desconfiadas, demonstrando um conhecimento sobre a minha vida pessoal.
Vem isto a propósito da reforma da directiva europeia sobre a protecção de dados (95/46/EC). A UE mudou muito desde 1995, pelo que é preciso modernizar a legislação europeia sobre este tema e sobretudo corrigir as falhas do passado, decorrentes da não uniformidade da sua transposição para a ordem jurídica de cada país. De acordo com o estudo efectuado a cidadãos dos 27 países da EU (Special Eurobarometer 359; Attitudes on Data Protection and Electronic Identity in the European Inuon, June 2011; http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_359_en.pdf), 90% dos inquiridos entende que deverão vigorar os mesmos direitos de protecção de dados por toda a Europa.
Todos estamos de acordo que não queremos viver sob vigilância, mas se permito que o mundo possa espreitar a minha vida, porque é que a ideia da polícia aceder e analisar dados pessoais individuais nas suas atividades de prevenção de todo o tipo de crimes, não me deixa confortável? De acordo com o mencionado estudo , apenas 33% admitem que a polícia o possa fazer.
Já lá diz o ditado que “prevenir é melhor do que remediar”, mas a prevenção do crime é também feita através de análise de dados e, por isso, pergunto: será possível encontrar um equilíbrio entre a privacidade/proteção de dados pessoais e a minha segurança e bem-estar?
Reformar a lei europeia é sem dúvida necessário de modo a garantir a proteção de cada um de nós na sociedade moderna, mas não devemos também repensar os nossos comportamentos? O perigo de violação da nossa privacidade será apenas uma questão de legislação desatualizada?