Filipe Pontes, OBEGEF

 

"A crise financeira foi mais longe do que simplesmente lançar a dúvida na capacidade dos mercados alocarem o risco de forma eficaz e também estimulou um sentimento disseminado de que estes se divorciam completamente da moral e que, de alguma forma, existe uma necessidade premente de os voltar a reconciliar. Só não se descobriu ainda como"

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Na visão de Sandel (2011) durante o período da Guerra Fria (1963): “A economia começou a tornar-se um domínio imperial”, afirma o filósofo.

Mais, do ponto de vista do autor: “Os anos que levaram à crise financeira de 2008 foram inebriantes do ponto de vista da fé nos mercados e na sua desregulação – a era do triunfo dos mercados” tal como Sandel a batizou. Para Sandel, essa era teve início nos anos 80, quando Ronald Reagen e Margaret Thatcher proclamaram a sua convicção que eram os mercados, e não os governos, que tinha a chave para a prosperidade e para a liberdade. E, acrescenta: “continuou na década de 90, com o liberalismo amigo dos mercados de Bill Clinton e de Tony Blair, que consolidaram, embora de forma mais moderada, a fé de que os mercados eram os meios por excelência para se atingir o bem público”.

Todavia, essa fé é agora colocada em questão segundo o autor: “A crise financeira foi mais longe do que simplesmente lançar a dúvida na capacidade dos mercados alocarem o risco de forma eficaz e também estimulou um sentimento disseminado de que estes se divorciam completamente da moral e que, de alguma forma, existe uma necessidade premente de os voltar a reconciliar. Só não se descobriu ainda como.”

“Alguns afirmam que o fracasso moral que teve origem no triunfalismo do mercado que por sua vez, conduziu à tomada de riscos irresponsável”, escreve Sandel. “A Solução, de acordo com esta visão, é tomar as rédeas desta ganância, insistir numa maior integridade e responsabilidade entre os banqueiros e os executivos da indústria financeira e acionar regulamentações precisas para prevenir a ocorrência de uma crise similar”.

Sandel sintetizado nestas citações espelha uma realidade nem sempre afirmada ou aceite, mas que exige uma profunda reflexão. Existem hoje dúvidas sérias que pairam sobre a credibilidade da Banca Nacional? Claro que sim. Será apenas um problema à escala Nacional? Claro que não.

Mas reconhecer que se trata de um problema será já um bom ponto de partida que pelos vistos ainda não se considerou tomar!