António João Maia, OBEGEF

Perder as poupanças de toda uma vida de trabalho e sacrifícios.

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Anda nas bocas do mundo e nas primeiras páginas dos jornais – e não será caso para menos – a situação de milhares de portugueses e respetivas famílias que estão na eminência de poderem perder as poupanças de toda uma vida de trabalho e sacrifícios.

Induzidas em erro pelas informações que lhes foram prestadas pelos colaboradores das entidades bancárias – ao que consta também eles a atuar em erro – relativamente à segurança dos investimentos nos produtos oferecidos, aliadas e alicerçadas ainda numa imagem institucional consolidada, resultante de mais de um século de atividade da instituição bancária em causa, investiram os pés-de-meia que a suas vidas lhes possibilitaram amealhar, na expectativa de lhe acrescentar futuramente os legítimos dividendos que lhes foram prometidos.

Porém, repentinamente, viram a instituição bancária em causa a desmoronar-se como um castelo de cartas ao vento e, por arrastamento, acabaram vítimas da perda de qualidade dos investimentos concretizados e, o que é pior e mais dramático, a perda dos respetivos valores investidos, como tem sido publicamente assinalado.

Como já escrevemos em crónicas anteriores, é nestes momentos, quando o cenário sobre uma certa realidade ou um determinado pressuposto se reconfigura, mostrando-se afinal muito diferente do que até então era anunciado e se percecionava, que as pessoas percebem – como uma espécie de choque frontal contra a nova realidade – que foram vítimas de fraude.

Imagina-se como o problema, que como se disse tem sido particularmente mediatizado, seja complicado – nalguns casos dramaticamente complicado – de perceber e aceitar – se é aceitável? – relativamente a cada uma das pessoas e famílias que vive o seu caso por dentro, uma vez que corresponde a uma possibilidade real de perda total dos esforços – dos projetos e porventura dos sonhos – de toda uma vida.

Mas ela é igualmente problemática para toda a sociedade. Por um lado está a gerar tensões sociais nas vítimas que, sendo por certo processos de gestão difícil, são capazes de, em casos limites de desespero, poderem conduzir a reações menos refletidas. Mas são também seguramente processos complexos de gestão da manutenção e do equilíbrio da paz social, na medida em que contribuem seriamente para a destruição do fator confiança que, como é sabido, é de importância fundamental para a manutenção da coesão social, designadamente para a manutenção do funcionamento do sistema bancário e das relações económicas.

Situações como esta desacreditam as instituições de forma muito profunda e violenta aos olhos das pessoas.

A credibilidade e a confiança são fundamentos centrais de uma qualquer sociedade. São construídos, sedimentados e fortalecidos de forma gradual e permanente por todas as pessoas e instituições de uma sociedade ao longo do tempo.

Porém a sua destruição é muito rápida. Faz-se, como estamos a ver, com simples gestos e atitudes de puro egoísmo...