Henrique Santos, Visão on line,
Há que assumir com toda a frontalidade. Acabaram-se as desculpas, a responsabilização de terceiros, o apontar o dedo, o eu não fui. E isto só acontece em Portugal, e se fosse nas Europas (e há muitas) isto não era nada disso, e por aí adiante. Chega!
Perante vós assumo a minha responsabilidade. Sou eu o culpado pela existência da Fraude. Pronto. Agora condenem-me e o problema está resolvido.
Ups! Não há legislação para me condenar? O legislador não previu que alguém se confessasse culpado de fraude? …"Oooooolha", agora vem-me este com o legislador, outra figura mítica que ninguém conhece, ninguém sabe quem é, mas todos o escolhem. Sim até os que não votam o escolhem, ou por omissão, ou por anuência. Bem, pelo menos tem género… por acaso não, acho que pode ser qualquer um dos dois ou mesmo hermafrodita.
Ética à parte, porque essa só a nossa consciência ou a religião condena, o povo (seja lá ele quem for), começou a achar a ideia da impunidade algo que não lhe parecia bem, e, para que me condenassem, mandei o legislador legislar. Pedido que eu fizesse! O legislador começou a produzir texto, mais texto, mais texto…., que nunca mais fui condenado, tal era a complexidade da coisa. Tudo prescreveu e, por mais leis que fizesse, mudanças, alterações, ficou tudo de tal forma num imbróglio, que foram obrigados a destruir as provas. Depois, afinal, já tinham sido usadas para outro processo, mas como foram destruídas também já não podiam ser novamente utilizadas. Enfim, um rosário de trocas e baldrocas que me mantém sossegado no meu canto, e, com um jeitinho, ainda me vão ressarcir por danos causados! Então eu dou-me como culpado, sou humilhado, não me condenam e fico assim, sem os meus minutos de antena, de palco? Não… Era o que mais faltava.
Quando vejo tourada, uma coisa é certa, torço mais pelo touro que pelo toureiro, isso, meus amigos, peço desculpa… o touro não tem culpa. E ele que não tem culpa é condenado, e eu que sou culpado, nada! Alguém tem de pagar por isso!
Basta, mudei de ideias. Afinal a culpa não é minha. Estou aqui há imenso tempo a dizer que sou culpado e ninguém faz nada. Não tenho culpa que ninguém me dê ouvidos. Eu não fui. Sei lá, não vi,… foram esses, os do rendimento mínimo, … são todos iguais, não sei nem quero saber.
Agora vou ler o texto em voz alta da varanda de minha casa. Acham que alguém me vai ligar alguma? (vão também lê-lo em voz alta). Às páginas tantas ainda sou capaz de "ter a sorte" de me atribuírem o rendimento mínimo (social de inserção), dado que não devo estar bom da cabeça, e não posso trabalhar.
… e vieram prender-me, e até hoje não sei porquê.
Depois da preventiva, mandaram-me para a casa com a pulseira.
Aguardo serenamente que me venham trazer a indemnização!
(o texto apresentado é pura ficção, pelo que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência)