Elisabete Maciel, Visão on line,

Será que a ganância das pessoas é tal que todos os esquemas são válidos para ganhar dinheiro.

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Já dizia o Padre António Vieira no Sermão de Santo António aos peixes que "Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem."

Mais de 300 anos passados, como é possível que tal afirmação se mantenha tão actual? Será que a ganância das pessoas é tal que todos os esquemas são válidos para ganhar dinheiro de forma rápida, sem trabalho e preferencialmente livre de impostos?

Senão vejamos como é possível, nos dias de hoje, ocorrerem situações como as a seguir referidas:

  • Telexfree – a empresa americana funcionando num esquema em pirâmide faliu levando os investidores à perda de elevadas quantias;
  • Rede adquiria empresas em situação económica difícil, a preços simbólicos, em nome das quais comprava mercadorias que pagavam com cheques pré-datados sem provisão – burla a empresários;
  • Compra de bilhetes de avião através do uso de dados de cartões de crédito falsos ou roubados através da Internet;
  • Rede utilizando indivíduos que se tornavam falsos trabalhadores de empresas fictícias com vista a posteriormente receberem o subsídio de desemprego;
  • Compra de carros usados como novos a um preço irrisório, exigindo um depósito prévio, através de anúncios colocado em sites especializados internacionais. O comprador nunca chegava a receber a viatura;
  • “Caso mansogate” envolve mulher que burlou o Estado, a União Europeia e não só. Com a ajuda da Internet localizou indivíduos com formação superior e situação financeira confortável, os quais burlou após estabelecer com eles uma relação amorosa.

As situações mencionadas foram amplamente divulgadas na imprensa. Todas elas apresentam pontos comuns: um ou mais defraudadores, fazendo jus da ambição desmesurada dos defraudados, nem sempre incautos, constroem esquemas, mais ou menos elaborados, tendo em vista retirar daí vantagens. As pessoas estão receptivas a ganhar dinheiro de uma forma fácil e os defraudadores aproveitam esta situação propícia para infligirem os seus golpes. Para além disso, nos últimos anos a situação de muitos portugueses complicou-se, com o aumento do desemprego e dos impostos reduzindo substancialmente o rendimento disponível, potenciando a apetência para os esquemas fraudulentos.

De realçar que o defraudado cai no logro porque

  • considera que a compra/investimento que lhe é oferecida/o é uma pechincha, isto é, não desconfia da esmola…
  • tem como objectivo ganhar dinheiro fácil, sem trabalho e em pouco tempo.

Com a sofisticação dos meios, como o recurso à internet, e quando os esquemas são bem elaborados verifica-se que, para além de se perder o dinheiro investido ainda é necessário assumir as consequências legais dos actos praticados.  Via Internet, infelizmente, os defraudadores não deixam rasto pelo que, dificilmente serão penalizados.

Acresce ainda que quando nos referimos ao cibercrime em Portugal, a situação é deveras preocupante. Senão atente-se ao Relatório de Actividade de 2013 (1) elaborado pelo Gabinete do Cibercrime da Procuradoria Geral da República. Nesse documento, ressalta a incapacidade do Ministério Público levar a bom termo a investigação, seja por falta de meios e impreparação dos seus magistrados, seja por desentendimentos com a Polícia Judiciária quanto às competências que estão atribuídas a cada uma das partes. Esta realidade, quanto ao combate à fraude, não nos pode deixar sossegados.

Do exposto fica claro que temos obrigação de controlar o que realmente de nós depende: a ganância. Sempre que alguém faz uma proposta que proporciona um lucro muito acima do normal ou um benefício demasiado fácil é de desconfiar. Não há almoços grátis…

 

NOTAS

(1)    http://www.pgr.pt/pub/relatorio-da-atividade_Cibercrime.pdf (05-2014)