Paulo Vasconcelos, Visão on line,

"Estamos no ano 2050 depois de Cristo. Toda a Europa foi ocupada pelos defraudadores”
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Fraude é … jogar com os números. A 6 de março de 2014, Mario Draghi, atual presidente do Banco Central Europeu, declarou que a baixa de desemprego em Portugal é impressionante. Mais, quantificou o impressionante com a queda em dois pontos percentuais na taxa de desemprego. Ora impressionante é a declaração.
A taxa de desemprego em Portugal terá caído de 17,3% em Dezembro de 2013 para 15,4% no mês homólogo de 2014 (Eurostat), o que realmente conduz a uma diminuição de 1,9 pontos percentuais (quase 2 pontos percentuais). Mas terão saído de Portugal entre 100 a 120 mil portugueses em 2013. Este número parece ser mais ou menos constante, segundo declarações do próprio secretário de Estado das Comunidades Portuguesas "Não tenho nota que, no ano, tenha havido um aumento. Temos números mais ou menos constantes, mas que são bastante altos". Ora 100 mil desempregados a saírem de Portugal, fora aqueles que partem desesperados fugindo do nada para arriscar algo, e que talvez não estejam nestes números ainda, alteram as contas … e muito. Será que a baixa no desemprego se deve mais à emigração do que à criação e oferta de emprego? Os que partiram saem dos centros de emprego. Mais do que atirar com números é preciso ler os números. Claro que também se pode ler que a política europeia (e mundial) está a funcionar em pleno, deslocando jovens com capacidade produtiva e conhecimento para os países mais desenvolvidos. Os nossos jovens partem para o norte e nós recebemos os idosos do norte … qualquer dia para serem apoiados pelos idosos do sul, únicos habitantes em Portugal.Fraude é … brincar às prescrições. A 7 de março de 2014, a condenação a Jardim Gonçalves, então presidente do Millenium BCP, prescreve. O advogado de defesa reclama por falta de celeridade para que o seu cliente se possa defender apontando até "falta de capacidade revelada pelo Banco de Portugal, para que este caso não tenha sido efetivamente julgado de forma definitiva em tempo útil". Não se percebe ... 8 anos inconclusivos …

A justiça é lenta mas pratica-se. O cidadão comum, a empresa familiar sabem o que isso é. A justiça em geral tarda mas quase sempre atua. Uma contraordenação ao Sr. António prescreve? Uma multa por dívida fiscal à empresa "aqui trabalha-se" prescreve? Não, não prescreve. Então porque é que casos mais mediáticos prescrevem? Nem a justiça se aplica nem os visados se podem retratar em caso de injustiça. Ninguém ganha ou será que ganham todos? Todos não, os contribuintes e o dinheiro dos seus impostos, e que impostos!, perdem certamente.

Fraude é … tapar o sol com a peneira. O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, está a ameaçar com o encerramento das redes sociais como Facebook e YouTube. Sente-se ameaçado e injustiçado pelas informações por elas vinculadas.
As redes sociais ligam pessoas. Aquelas que envolvem um vasto leque de utilizadores são realmente um veículo poderosíssimo de "passa palavra". Mas também o são os jornais e meios audiovisuais. Estes últimos têm um corpo editorial que está sempre sobre escrutínio mas que também tem opinião e pode querer fazer política. Nada como um sistema aberto para que a verdade venha ao de cima; se assim não for, então o ditado "anda meio mundo a roubar o outro meio" cai e passamos a comer-nos uns aos outros … Ainda bem que há redes sociais, ainda bem que os media divulgam o que se vai passando por este mundo fora e por este Portugal dentro.
Fraude, no limite, é …
Os livros de Asterix, o gaulês, iniciam-se sempre com as seguintes linhas "Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos ... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor". Brincando com coisas sérias, e projetando-nos daqui a umas dezenas de anos, com os portugueses a temperar em vinha de alhos e cozidos em lume brando, poderia o livro da nossa história começar assim "Estamos no ano 2050 depois de Cristo. Toda a Europa foi ocupada pelos defraudadores (especuladores financeiros, instituições e burocratas europeus, elite de gestores e lobistas partidários)  ... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis tugas ainda resiste ao invasor".