Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

O fenómeno da corrupção pode ser melhor entendido quando analisado no quadro da conhecida trilogia que o liga à pressão, à oportunidade e a uma justificação moral desculpabilizante.

Dessa perspetiva a atual pandemia fornece todos os ingredientes para um disparar descontrolado da corrupção.

Desde logo as empresas estão sob enorme pressão: privadas de parte, muito significativa, das suas receitas durante o período mais agudo da pandemia estão, muitas delas, em grave situação financeira ou económica. O acesso a fundos governamentais portugueses ou europeus é premente. É mesmo fundamental para que possam sobreviver. A pressão é enorme.

Oportunidade: para vencer a crise os Estados e as instituições internacionais (União Europeia, Banco Central Europeu, etc.) estão a disponibilizar programas de recuperação que envolvem milhares de milhões de euros. Por outro lado são programas novos, como o do layoff, em que há pequena experiência de controlo dos fundos distribuídos. Nunca os fundos públicos foram tão abundantes e a sua distribuição previsível tão alargada. Como diz o ditado popular: a ocasião faz o ladrão. E a oportunidade parece ser a maior das últimas décadas.

As justificações já se ouvem de forma ensurdecedora: fazer tudo para salvar os postos de trabalhos, impedir o desaparecimento da empresa, evitar o colapso financeiro, aproveitar os fundos postos à disposição do país. Parece que vale tudo para atingir estes objetivos patrióticos.

Tudo indica que, se nada for feito, tenhamos um disparar descontrolado da fraude e da corrupção política em Portugal.

É, pois, importante que a par do lançamento dos programas de relançamento da economia, que são vitais, o Governo apresente uma estratégia firme de combate à corrupção. Sem isso os fundos públicos e europeus serão desviados em larga escala, como o foram no passado os da formação, e a economia portuguesa não conseguirá recuperar nem reestruturar-se.

Das medidas anticorrupção depende o futuro do nosso país no médio prazo, já que no curto prazo o que nos espera é, inevitavelmente, uma crise de grande dimensão em que já estamos mergulhados.

Economista