Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

Com esta percentagem de Penny Stocks a natureza da nossa bolsa transmuta-se de um mercado de capitais para um nicho para investidores especializados.

Os Penny Stocks, literalmente as ações a um cêntimo, são ações cuja cotação é muito baixa, refletindo as dificuldade atuais da empresa ou a sua ausência de perspetivas de futuro. A SEC (Security Exchange Commision), a CMVM norte-americana, considera Penny Stocks as ações com cotação abaixo dos 5 dólares. Estas ações, pelo seu muito maior risco, têm um enquadramento regulamentar diferente das restantes ações.

O baixo preço induz a grande volatilidade e a volatilidade é sinónimo de risco. E o risco o principal inimigo do investidor prudente, como devem ser fundos de pensões e outros grandes investidores.

A crise de 2008 e mais recentemente os efeitos da pandemia transformaram o principal índice bolsista português num autêntico índice de Penny Stocks. Das vinte empresas do índice 15 (75%) ostentam cotações inferiores a 5 euros e quatro delas cotações inferiores mesmo a 1 euro (millennium bcp, Sonae, Sonae Capital e Pharol). Uma situação ímpar na Europa.

Com esta percentagem de Penny Stocks a natureza da nossa bolsa transmuta-se de um mercado de capitais para um nicho para investidores especializados neste tipo de ações que, evidentemente, atrai mais a figura do especulador astuto do que a do investidor de longo prazo.

Dir-se-á que outros índices europeus também têm os seus Penny Stocks. Vejamos: o Ibex-35 tem 13 ações abaixo dos 5 euros, i.e. 37% das ações, o OMX sueco inclui duas (6%), o francês CAC-40 não tem nenhuma, o alemão DAX também não. No índice marroquino (MASI) as Penny Stocks representam 25% e no BET romeno 60%. Ou seja comparamos mal com outros mercados financeiros de geografias muito diversas.

Uma bolsa, cujo índice principal é maioritariamente constituído por Penny Stocks, transforma-se em verdadeiro afugenta investidores estrangeiros. Quem quer investir num país em que as principais empresas privadas cotadas em bolsa são empresas sem grandes perspetivas de crescimento. O PSI-20 é, desta forma, um péssimo e extraordinariamente visível cartão-de-visita do nosso país.

O governo em colaboração com a CMVM, a EuroNext e as principais cotadas deveria promover uma reorganização do mercado que forçasse as empresas a adotar outra estrutura de capital que ajudasse a remover parte da volatilidade do PSI-20 e a melhorar a imagem externa que projetam da nossa economia. Para que a nossa Bolsa não seja mais um travão ao desenvolvimento do país.

Economista, MBA