Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Como o jovem era negro e cabo-verdiano os jornais não falaram do assunto senão depois da morte, os comentadores encartados ignoraram-no, os Partidos não agendaram o tema para discussão parlamentar e a polícia não tomou ainda as diligências necessárias.

No dia 21 de dezembro Luís Giovani Rodrigues um jovem negro cabo-verdiano de 21 anos foi violentamente agredido por um conjunto de indivíduos nas ruas da cidade de Bragança, num ataque, tudo o indica, premeditado. Levado para o Hospital morreu no dia último dia do ano passado. Tinha vindo para o nosso país estudar.

Imaginemos por um momento que em vez de negro cabo-verdiano a vítima fosse loura e norte-americana. Os meios mobilizados para encontrar os assassinos teriam sido enormes. O Presidente teria pedido desculpas públicas aos Estados Unidos pela falha de segurança. O Governo teria sido responsabilizado pelas oposições e pedida a demissão do ministro do Interior e dos principais responsáveis da segurança policial.

Os comentadores não deixariam esquecer o caso e a pressão política obrigaria o assunto a ser debatido na Assembleia da República e no final o ministro e os responsáveis policiais teriam saído pela porta pequena. Medidas seriam tomadas para se não verificarem falhas desse tipo no futuro.

Como o jovem era negro e cabo-verdiano os jornais não falaram do assunto senão depois da morte, os comentadores encartados ignoraram-no, os Partidos não agendaram o tema para discussão parlamentar e a Polícia não tomou ainda as diligências necessárias que lhe permitissem prender os assassinos.

De facto passados mais de 15 dias a polícia ainda não encontrou os responsáveis nem os prendeu, quando as pistas são muitas uma vez que estiveram todos na mesma discoteca naquela noite. Há portanto testemunhas capazes de os identificar ou, no mínimo, de pôr a polícia muito perto dos agressores.

Como se fará justiça a Luís Rodrigues? Deixando os seus assassinos impunes? Mostrando ao mundo que em Portugal matar pessoas negras não tem consequências?

Como classificar então o desempenho da polícia? Negligente? Uma pergunta vem-nos à mente – haverá racismo nestes atrasos, nesta incapacidade de agir, de investigar de forma célere, de identificar e prender os assassinos?

Em Portugal podemos atacar o Governo, podemos invetivar os políticos, achincalhar o Sistema Nacional de Saúde, insultar os professores e os profissionais de saúde, mas não se pode criticar as sacrossantas forças policiais. Por ter tido essa coragem, um líder negro da nossa comunidade enfrenta agora um processo judicial tão absurdo como injusto.

Mas como evitar classificar este desempenho da polícia com uma palavra malcheirosa que nos acorre mas que é perigoso pronunciar?

No próximo sábado, dia 11 de janeiro partindo às 15 horas do Terreiro do Paço, em Lisboa, realizar-se-á uma marcha silenciosa em memória de Luís Giovani Rodrigues. No mesmo dia e à mesma hora marchas similares vão percorrer as ruas do Porto, de Coimbra e de Bragança. Eu lá estarei marchando pelas ruas de Lisboa para que este assassinato não passe impune, porque "Black Lives Matter".

Economista