Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Nos últimos anos tem prevalecido a ideia de que as empresas se devem orientar para os mercados externos esquecendo e ignorando o mercado interno.

 

Esta ideia foi posta em prática pelos sucessivos governos (PS/CDS/PSD) através dos mecanismos ao seu dispor: incentivos, subsídios, apoios, preferência no crédito, fundos comunitários.

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As consequências, desta orientação para a exportação, são desastrosas e de longo prazo e traduzem-se em empobrecimento e emigração fatores que consubstanciam o declínio de qualquer nação.

Vejamos, então, porque é que o modelo exportador não é positivo para o país:

1º Porque produzindo essencialmente para exportar implica, necessariamente, tudo ter de importar;

2º Portugal exporta bens de baixo valor acrescentado como sapatos, têxteis e produtos agrícolas (como o vinho), cuja competitividade assenta não na tecnologia, não no design ou na marca, mas nos baixos salários e também produtos de tecnologias intermédias, como carros e equipamentos, mas que são produzidas por empresas estrangeiras sendo, neste caso, o nosso valor acrescentado limitado à mão-de-obra barata. Mais recentemente começamos a exportar também serviços (turismo, serviços de call centers internacionais, offshoring de alguns serviços administrativos) igualmente assentes na mão-de-obra barata. Exportações significam, pois, baixos salários e concorrência com os países em desenvolvimento da Ásia e da África. Não tem de necessariamente ser assim, mas dado o perfil académico do país, acaba por ser assim. Na verdade desde os anos 60 do século passado que o é e nada indica que o deixe de ser.

Portugal, por outro lado, importa muito incluindo os produtos de alto valor acrescentado (tecnologia, maquinaria, etc.).

3º Desta forma ao produzir para exportação garantimos um deficit permanente como efetivamente temos tido.

4º A única forma de reduzir esse deficit estrutural e a consequente divida externa é restringir o consumo ao mínimo, i.e. viver permanentemente na penúria. Por isso Portugal tem uma elevada taxa de pobreza que ronda os 20% da população e com mais 20% dos portugueses pouco acima da linha de pobreza. As exportações significam sacrifícios materiais e pobreza para 40% da população. Para fugir à miséria largos extratos da população só têm um caminho: a emigração.

Se este sistema económico não for alterado Portugal manter-se-á na cauda da Europa por muitas e longas décadas.

Vemos outros povos europeus, espanhóis, checos, suecos, eslovenos, para não falar de alemães, holandeses e outros, a prosperar e nós ficamos pobres e agradecidos pela "ajuda" que nos dão através de fundos comunitários de incentivo à exportação.

Na verdade só interessa especializar-se nas exportações quem venda produtos de alto valor acrescentado e importe maioritariamente produtos de baixo valor acrescentado. É o caso da Alemanha, da Coreia, do Japão e até da China. Não é, nem será no futuro previsível, o caso de Portugal.

Há outro caminho. O da substituição de importações, o da aposta no mercado interno, o da educação e da ciência, o do investimento nas empresas públicas e privadas de média e grande dimensão. Por acréscimo virão as exportações, mas garantir, dentro de limites possíveis, o autoabastecimento é imprescindível para o país prosperar e não se transformar numa região periférica de uma Europa permanentemente em crise.

Economista